sexta-feira, 19 de junho de 2020

SUPER RODADA NA F-E


A F-E vai fazer o seu final de temporada com seis provas no circuito montado no antigo aeroporto de Tempelhof, em Berlim.
            Com os campeonatos da Nascar e Indycar retomados e iniciados, e com a perspectiva da F-1 e da MotoGP finalmente darem partida às suas disputas em 2020, depois dos percalços promovidos pela pandemia da Covid-19, chegou a hora da Formula-E também mostrar o que fará para continuar, e finalizar, a temporada 2019/2020, que estava em andamento, e teve de ser paralisada, assim como muitos outros torneios esportivos.
            As dificuldades da F-E para retomar seu certame decorriam do formato de disputa da categoria de carros elétricos, de correr em circuitos de rua, para ficarem próximos ao público, mostrando ser uma categoria mais simples, e muito mais acessível que uma F-1 ou MotoGP. O problema é que, com a pandemia, ainda que em muitos locais na Europa a situação já esteja mais controlada, ainda não dá para arriscar muito, e o cronograma da competição exige o seu encerramento pelo menos até o mês de agosto, uma vez que, se não houver nenhum outro tropeço, a partir daí começam os preparativos para a próxima temporada, com vistas a estrear em novembro, ou dezembro deste ano.
            Mesmo com as capitais europeias retomando algum nível de tranquilidade em relação à pandemia da Covid-19, os cuidados sanitários ainda imperam, de modo a impedir uma nova onda de casos, e por isso mesmo, as recomendações de se evitar aglomerações continuam na ordem do dia, de modo que o principal atrativo das corridas de rua da F-E não poderiam ser feitos, que seria justamente a aproximação do público. Fora, obviamente, os problemas operacionais de se montar uma pista urbana dentro das cidades, o que causa mais transtornos e problemas do que se ter uma prova em um circuito permanente. Era preciso achar uma solução para se conseguir efetuar algumas corridas, a fim de ter um número mais razoável de provas, e ao menos fechar o campeonato.
            Uma das hipóteses poderia ser utilizar circuitos permanentes que tivessem traçados alternativos mais curtos que pudessem ser utilizados pela F-E. Mas, por fim, a direção da categoria anunciou nestes últimos dias, uma solução pra lá de radical para se resolver de vez a situação: nada menos do que uma super rodada de provas em Berlim, com nada menos do que seis corridas, que serão disputadas no início do mês de agosto, em pouco mais de uma semana.
            O ePrix de Berlim era disputado em uma pista montada dentro da área externa do antigo aeroporto de Tempelhof, atualmente desativado. Diferente de uma pista de rua, o traçado é montado no imenso pátio onde antigamente manobravam os aviões, sendo fácil de ser montada, e por estar em um local fechado, o palco desta corrida não causa nenhum impacto nas vizinhanças dentro da cidade. E a categoria, que já disputou rodadas duplas em inúmeras ocasiões, não teria tanto trabalho em correr numa mesma pista.
Serão montados três circuitos diferentes no grande pátio interno do antigo aeroporto, a fim de garantir a emoção e diferenciação das corridas entre si.
            Mas, é bem verdade que não será como as rodadas duplas já realizadas até aqui. Na verdade, serão três rodadas duplas, em sequência, e para garantir que haja um diferencial com tantas provas que serão disputadas em apenas um único lugar, a pista não será a mesma para todas as provas. Foi anunciado que haverá três circuitos “montados” em Tempelhof, que cada rodada dupla utilizando uma configuração da pista. As primeiras provas deverão ser realizadas nos dias 5 e 6 de agosto. Teremos uma pausa no dia 7, onde a organização trabalhará para modificar o traçado, e nos dias 8 e 9, mais uma rodada dupla, com um novo traçado a ser percorrido. No dia 10, mais uma pausa, com as corridas finais marcadas para os dias 12 e 13 de agosto, em mais uma opção diferente de traçado.
            Com os preparativos começando no dia 4, até o dia 13, teremos praticamente dez dias de atividades, praticamente uma semana e meia. As corridas serão realizadas sem público, e todos os profissionais presentes terão de obedecer a rígidos protocolos de segurança médica, e com presença de pessoal reduzida ao mínimo indispensável, manter distanciamento entre as pessoas tanto quanto possível, testagem de todos os presentes no local, entre outros procedimentos de prevenção, normas que já estão sendo definidas também para serem adotadas em outros certames de competição do mundo do esporte a motor. Quanto à programação dos dias de corridas, bem como quais serão os traçados que serão utilizados, isso ainda será comunicado oportunamente pela direção da F-E a todos os times e profissionais participantes. Na programação normal, geralmente são realizados dois treinos livres, um treino classificatório, e a corrida, lembrando que já é praxe a F-E realizar todos os procedimentos de seus eventos em um único dia. Talvez, devido à pandemia, realize-se apenas um único treino livre, mas pode ser que a programação siga como de costume. Todos os detalhes de como será feita a competição estão sendo analisados e considerados para ver o que deverá ser feito.
            Será de fato um grande desafio para todos os times e profissionais participantes. Como já mencionei, rodadas duplas não são novidade para o pessoal da F-E, mas aqui, teremos três rodadas duplas em sequência, em um espaço de tempo relativamente curto, e isso demandará um grande esforço por parte de todos que estiverem presentes, os quais já contarão com um staff reduzido ao mínimo essencial, estimado em no máximo 25 pessoas por equipe, pilotos inclusos. Com o pessoal da organização presente também ao mínimo, além de outros profissionais presentes, a organização da categoria quer tentar manter o número máximo de pessoas presentes em mil dentro do circuito. Mas os desafios da competição não serão menores, e isso certamente vai exigir muito mais de cada um dos profissionais presentes do que nunca.
A largura da pista montada em Tempelhof favorece as disputas dos pilotos, minimizando acidentes geralmente favorecidos por pistas estreitas.
            E como se dará o desgaste dos equipamentos? E os imprevistos? Tudo isso precisa ser estudado, de forma que os times e os pilotos possam manter-se dispostos e concentrados em suas obrigações. Entre os treinos, os carros tem suas baterias recarregadas, são checados, e problemas eventuais são verificados e sanados. Pilotos e engenheiros precisam discutir acertos e ajustes dos bólidos. E, se alguém der azar, ou errar feio, uma pancada no muro pode ser determinante para acabar com as chances de competição de alguém. Mas, e quanto temos seis corridas pela frente? Bem, os carros e profissionais serão mesmo levados ao seu limite, ou até além dele. O cansaço pode acabar sendo um grande problema, em especial a partir da quarta corrida. Mesmo que tenhamos um dia de pausa entre uma rodada dupla e outra, isso não significa exatamente um descanso. Se os pilotos poderão relaxar, mecânicos e engenheiros já serão outra história. Os carros precisam passar pela tradicional revisão pós-corrida, e quem tiver tido percalços, e sofreu algum acidente, certamente dará muito trabalho a seus times, dependendo de como foi o incidente.
            E não vamos nos ater apenas a problemas que podem surgir dos momentos de competição, como batidas, ou enroscadas com adversários. Os próprios carros podem ter problemas, algo normal em uma competição. E os sistemas de baterias e do trem de força, como irão se comportar em termos de fiabilidade e performance e eficiência, com tantas corridas seguidas. Fadiga mecânica é uma coisa, e todos sabem o que acontece quando os sistemas dos carros são levados ao limite. Mas, e a fadiga eletrônica? Pode ser uma boa oportunidade para ver como isso se desenrola no ambiente de competição. E, claro, não podemos descuidar do cansaço humano, talvez o mais inesperado em termos de possibilidades, porque são as pessoas que fazem tudo funcionar. Na correria que normalmente é um fim de semana de competição, todos já estão preparados para o que devem enfrentar, e na maioria das vezes, conseguem dar conta sem problemas. Mas sempre existe a chance de algo sair errado por algum erro. E imagine, então, termos seis corridas em um espaço de nove dias apenas?
            Já vimos exemplos de desgaste do pessoal em certames da F-1, e da Indycar, quando tiveram que disputar corridas em fins de semana consecutivos. Para o pessoal da F-1, foi tremendamente estafante, de modo que eles querem evitar ao máximo correr mais do que dois finais de semana consecutivos. Já na Indycar, por ser um campeonato mais restrito aos Estados Unidos, não é difícil termos visto provas disputadas em fins de semana consecutivos, e mesmo tendo que lidar com uma estrutura muito menor do que a rival F-1, nem por isso os integrantes dos times deixam de sofrer com o cansaço imposto pelo ritmo das competições em fins de semana seguidos. É verdade que a F-E tem uma estrutura bem menor, mas se levarmos em conta a limitação de pessoal que será aplicada a esta “maratona” de seis corridas, vamos ver situações complicadas de cansaço, e não vão ser poucas, podem apostar.
As corridas não deverão ter público presente, e contarão com a presença apenas do pessoal indispensável para realização das corridas, o que pode sobrecarregar os profissionais. Preocupação com desgaste dos carros também é premente.
            Se em tempos normais isso já deixaria qualquer um preocupado, temos a considerar também o ambiente de trabalho. Ainda estaremos todos com o perigo da pandemia rondando sobre nossas cabeças. Os deslocamentos serão reduzidos ao máximo, com todo mundo não podendo sair para dar uma relaxada, como se faria normalmente. Todos os integrantes irão apenas do hotel para a pista, e vice-versa, e as regras de distanciamento social, o uso de máscaras, além dos exames e testes que serão feitos, não deixarão o pessoal se distrair o mínimo possível, o que só contribuirá para aumentar o stress que normalmente já se tem em um fim de semana de corrida. Agora imagine isso multiplicado por seis, e sem ter as opções de distração nos poucos momentos de prazer que poderiam ter? Por mais dedicados e concentrados no serviço, sem haver uma válvula de escape, mesmo que mínima, todo mundo vai ver o cansaço bater em cima, e o stress então, nem se fala.
            A solução adotada pela F-E não deixa de ser interessante, e se não é a melhor, talvez seja a mais possível. Talvez pudessem adotar uma pausa maior entre uma rodada dupla e outra, quem sabe dois ou três dias, ao invés de um. As datas divulgadas ainda não são definitivas, e podem ser alteradas. Vale lembrar que temos mais de um mês até lá, e quem sabe a situação evolua de modo a permitir algumas mudanças na forma como serão realizadas as seis provas?
            O que não deve mudar é a intensa competição que a categoria de carros monopostos elétricos deve apresentar nesta super rodada de corridas. E, com todo mundo sendo posto à prova, neste ritmo de competição inédito, muita coisa pode acontecer, desde os azares normais de uma corrida de competição, até os problemas que poderão surgir do desgaste anormal do equipamento, e do cansaço que deverá castigar os profissionais da categoria. Podemos ver um final de temporada ainda mais imprevisível do que o esperado. Até a paralisação das atividades, a F-E já tinha disputado cinco provas na atual temporada. Com mais as seis corridas, teremos um total de onze provas então, um número até bem satisfatório para a competição.
            Na classificação, o português Antonio Félix da Costa, da equipe DS Techeetah, ocupa a liderança, com 67 pontos. Mith Evans, da Jaguar, é o vice-líder, com 56 pontos. Alexander Sims, da BMW Andretti, é o 3º colocado, com 46 pontos. Maximilian Guenther, companheiro de Sims na BMW Andretti, vem logo a seguir, com 44 pontos. Lucas Di Grassi, da Audi, é o 5º colocado, com 38 pontos, empatado com Stoffel Vandoorne, da Mercedes. Felipe Massa, nosso outro representante na competição, é o 19º colocado, com apenas 2 pontos. Na disputa de equipes, a DS Techeetah lidera com 98 pontos, seguida pela BMW Andretti, com 90 pontos. A Jaguar é a 3ª colocada, com 66 pontos. A Nissan e.Dams é a 4ª, com 57 pontos, 1 a mais que a Mercedes, a 5ª colocada.
            Todos os competidores mais bem colocados vão enfrentar um cenário bem particular nesta maratona de seis provas. O stress e o cansaço, além do desgaste do equipamento, serão detalhes mais do que cruciais, e podem tanto ajudar quanto dificultar o sucesso dos pilotos. O ponto positivo é que, por ser uma pista montada em uma grande área plana, os problemas que a categoria vinha enfrentando de pistas estreitas e/ou travadas demais em alguns pontos poderão ser minimizados na montagem da pista, o que poderá ser bem útil para evitar choques entre os competidores, panorama que estava sendo comum na temporada passada, e passou a ser mais estudado na atual temporada, com a organização tendo feito medidas pontuais nas pistas a fim de melhorar as condições de disputa, e evitar acidentes por causa do estrangulamento da largura da pista, além de facilitar ultrapassagens com a eliminação ou suavização de algumas chicanes. Tempelhof, por outro lado, não apresentou estes problemas, justamente por não ter estes problemas na montagem de seu traçado, o que certamente deverá ser bem levado em conta para a concepção dos traçados que a categoria irá utilizar nas corridas que fará por lá.
            Então, aguardemos a divulgação de como serão realizadas as provas, e esperemos que possamos assistir a boas corridas no antigo aeroporto alemão. Os fãs da velocidade agradecem.


O grid da F-E para as seis corridas que serão disputadas em Berlim terá duas mudanças. Daniel Abt foi despedido da equipe Audi, após deixar um “dublê” competir em seu lugar em uma corrida virtual, o que levou o piloto a ser punido e multado, além de acabar perdendo seu lugar na escuderia das quatro argolas. Abt e Lucas Di Grassi eram a única dupla que ainda permanecia a mesma, desde a estréia da F-E, em 2014. A outra mudança será na equipe Mahindra, uma vez que Pascar Werhlein anunciou seu desligamento da escuderia indiana. O seu destino provavelmente deverá ser o WEC, embora o piloto ainda não tenha dado maiores detalhes de onde irá competir, afirmando apenas que não teria como terminar a temporada do jeito que planejava. A Mahindra ainda não anunciou quem será seu novo piloto, o que deverá ser feito em breve. Já a Audi confirmou para o lugar de Daniel Abt a contratação de René Rast, que foi bicampeão do DTM com a própria Audi.


Lucas Di Grassi, piloto da Audi, tem um bom retrospecto na pista de Tempelhof, mas alerta que precisará ver como seu time conseguiu melhorar o carro para as seis corridas, uma vez que, nas provas disputadas até agora, o brasileiro reconheceu que seu carro não estava tão competitivo quanto o de outros times, e que a equipe precisava trabalhar para melhorar sua performance, a fim de permitir que ele brigasse pela vitória nas provas seguintes. Lucas está 29 pontos atrás do líder Antonio Félix da Costa, e vai precisar muito de uma melhorada no carro para poder reverter essa desvantagem. Vejamos como ele irá se apresentar nesta maratona de corridas...
Tempelhof, em seus tempos como aeroporto de Berlim.

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