A F-E vai fazer o seu final de temporada com seis provas no circuito montado no antigo aeroporto de Tempelhof, em Berlim. |
Com os campeonatos da
Nascar e Indycar retomados e iniciados, e com a perspectiva da F-1 e da MotoGP
finalmente darem partida às suas disputas em 2020, depois dos percalços
promovidos pela pandemia da Covid-19, chegou a hora da Formula-E também mostrar
o que fará para continuar, e finalizar, a temporada 2019/2020, que estava em
andamento, e teve de ser paralisada, assim como muitos outros torneios
esportivos.
As dificuldades da F-E
para retomar seu certame decorriam do formato de disputa da categoria de carros
elétricos, de correr em circuitos de rua, para ficarem próximos ao público,
mostrando ser uma categoria mais simples, e muito mais acessível que uma F-1 ou
MotoGP. O problema é que, com a pandemia, ainda que em muitos locais na Europa
a situação já esteja mais controlada, ainda não dá para arriscar muito, e o
cronograma da competição exige o seu encerramento pelo menos até o mês de
agosto, uma vez que, se não houver nenhum outro tropeço, a partir daí começam
os preparativos para a próxima temporada, com vistas a estrear em novembro, ou
dezembro deste ano.
Mesmo com as capitais
europeias retomando algum nível de tranquilidade em relação à pandemia da
Covid-19, os cuidados sanitários ainda imperam, de modo a impedir uma nova onda
de casos, e por isso mesmo, as recomendações de se evitar aglomerações
continuam na ordem do dia, de modo que o principal atrativo das corridas de rua
da F-E não poderiam ser feitos, que seria justamente a aproximação do público.
Fora, obviamente, os problemas operacionais de se montar uma pista urbana
dentro das cidades, o que causa mais transtornos e problemas do que se ter uma
prova em um circuito permanente. Era preciso achar uma solução para se
conseguir efetuar algumas corridas, a fim de ter um número mais razoável de
provas, e ao menos fechar o campeonato.
Uma das hipóteses
poderia ser utilizar circuitos permanentes que tivessem traçados alternativos
mais curtos que pudessem ser utilizados pela F-E. Mas, por fim, a direção da
categoria anunciou nestes últimos dias, uma solução pra lá de radical para se
resolver de vez a situação: nada menos do que uma super rodada de provas em
Berlim, com nada menos do que seis corridas, que serão disputadas no início do
mês de agosto, em pouco mais de uma semana.
O ePrix de Berlim era
disputado em uma pista montada dentro da área externa do antigo aeroporto de
Tempelhof, atualmente desativado. Diferente de uma pista de rua, o traçado é
montado no imenso pátio onde antigamente manobravam os aviões, sendo fácil de
ser montada, e por estar em um local fechado, o palco desta corrida não causa
nenhum impacto nas vizinhanças dentro da cidade. E a categoria, que já disputou
rodadas duplas em inúmeras ocasiões, não teria tanto trabalho em correr numa
mesma pista.
Serão montados três circuitos diferentes no grande pátio interno do antigo aeroporto, a fim de garantir a emoção e diferenciação das corridas entre si. |
Mas, é bem verdade que
não será como as rodadas duplas já realizadas até aqui. Na verdade, serão três
rodadas duplas, em sequência, e para garantir que haja um diferencial com
tantas provas que serão disputadas em apenas um único lugar, a pista não será a
mesma para todas as provas. Foi anunciado que haverá três circuitos “montados”
em Tempelhof, que cada rodada dupla utilizando uma configuração da pista. As
primeiras provas deverão ser realizadas nos dias 5 e 6 de agosto. Teremos uma
pausa no dia 7, onde a organização trabalhará para modificar o traçado, e nos
dias 8 e 9, mais uma rodada dupla, com um novo traçado a ser percorrido. No dia
10, mais uma pausa, com as corridas finais marcadas para os dias 12 e 13 de
agosto, em mais uma opção diferente de traçado.
Com os preparativos
começando no dia 4, até o dia 13, teremos praticamente dez dias de atividades,
praticamente uma semana e meia. As corridas serão realizadas sem público, e
todos os profissionais presentes terão de obedecer a rígidos protocolos de
segurança médica, e com presença de pessoal reduzida ao mínimo indispensável, manter
distanciamento entre as pessoas tanto quanto possível, testagem de todos os
presentes no local, entre outros procedimentos de prevenção, normas que já
estão sendo definidas também para serem adotadas em outros certames de
competição do mundo do esporte a motor. Quanto à programação dos dias de
corridas, bem como quais serão os traçados que serão utilizados, isso ainda
será comunicado oportunamente pela direção da F-E a todos os times e
profissionais participantes. Na programação normal, geralmente são realizados
dois treinos livres, um treino classificatório, e a corrida, lembrando que já é
praxe a F-E realizar todos os procedimentos de seus eventos em um único dia.
Talvez, devido à pandemia, realize-se apenas um único treino livre, mas pode
ser que a programação siga como de costume. Todos os detalhes de como será
feita a competição estão sendo analisados e considerados para ver o que deverá
ser feito.
Será de fato um grande
desafio para todos os times e profissionais participantes. Como já mencionei,
rodadas duplas não são novidade para o pessoal da F-E, mas aqui, teremos três
rodadas duplas em sequência, em um espaço de tempo relativamente curto, e isso
demandará um grande esforço por parte de todos que estiverem presentes, os
quais já contarão com um staff reduzido ao mínimo essencial, estimado em no
máximo 25 pessoas por equipe, pilotos inclusos. Com o pessoal da organização
presente também ao mínimo, além de outros profissionais presentes, a
organização da categoria quer tentar manter o número máximo de pessoas
presentes em mil dentro do circuito. Mas os desafios da competição não serão
menores, e isso certamente vai exigir muito mais de cada um dos profissionais
presentes do que nunca.
A largura da pista montada em Tempelhof favorece as disputas dos pilotos, minimizando acidentes geralmente favorecidos por pistas estreitas. |
E como se dará o
desgaste dos equipamentos? E os imprevistos? Tudo isso precisa ser estudado, de
forma que os times e os pilotos possam manter-se dispostos e concentrados em
suas obrigações. Entre os treinos, os carros tem suas baterias recarregadas,
são checados, e problemas eventuais são verificados e sanados. Pilotos e
engenheiros precisam discutir acertos e ajustes dos bólidos. E, se alguém der
azar, ou errar feio, uma pancada no muro pode ser determinante para acabar com
as chances de competição de alguém. Mas, e quanto temos seis corridas pela
frente? Bem, os carros e profissionais serão mesmo levados ao seu limite, ou
até além dele. O cansaço pode acabar sendo um grande problema, em especial a
partir da quarta corrida. Mesmo que tenhamos um dia de pausa entre uma rodada
dupla e outra, isso não significa exatamente um descanso. Se os pilotos poderão
relaxar, mecânicos e engenheiros já serão outra história. Os carros precisam
passar pela tradicional revisão pós-corrida, e quem tiver tido percalços, e
sofreu algum acidente, certamente dará muito trabalho a seus times, dependendo
de como foi o incidente.
E não vamos nos ater
apenas a problemas que podem surgir dos momentos de competição, como batidas,
ou enroscadas com adversários. Os próprios carros podem ter problemas, algo
normal em uma competição. E os sistemas de baterias e do trem de força, como
irão se comportar em termos de fiabilidade e performance e eficiência, com
tantas corridas seguidas. Fadiga mecânica é uma coisa, e todos sabem o que
acontece quando os sistemas dos carros são levados ao limite. Mas, e a fadiga
eletrônica? Pode ser uma boa oportunidade para ver como isso se desenrola no
ambiente de competição. E, claro, não podemos descuidar do cansaço humano, talvez
o mais inesperado em termos de possibilidades, porque são as pessoas que fazem
tudo funcionar. Na correria que normalmente é um fim de semana de competição,
todos já estão preparados para o que devem enfrentar, e na maioria das vezes,
conseguem dar conta sem problemas. Mas sempre existe a chance de algo sair
errado por algum erro. E imagine, então, termos seis corridas em um espaço de
nove dias apenas?
Já vimos exemplos de
desgaste do pessoal em certames da F-1, e da Indycar, quando tiveram que disputar
corridas em fins de semana consecutivos. Para o pessoal da F-1, foi
tremendamente estafante, de modo que eles querem evitar ao máximo correr mais
do que dois finais de semana consecutivos. Já na Indycar, por ser um campeonato
mais restrito aos Estados Unidos, não é difícil termos visto provas disputadas
em fins de semana consecutivos, e mesmo tendo que lidar com uma estrutura muito
menor do que a rival F-1, nem por isso os integrantes dos times deixam de
sofrer com o cansaço imposto pelo ritmo das competições em fins de semana
seguidos. É verdade que a F-E tem uma estrutura bem menor, mas se levarmos em
conta a limitação de pessoal que será aplicada a esta “maratona” de seis
corridas, vamos ver situações complicadas de cansaço, e não vão ser poucas, podem
apostar.
Se em tempos normais
isso já deixaria qualquer um preocupado, temos a considerar também o ambiente
de trabalho. Ainda estaremos todos com o perigo da pandemia rondando sobre
nossas cabeças. Os deslocamentos serão reduzidos ao máximo, com todo mundo não
podendo sair para dar uma relaxada, como se faria normalmente. Todos os
integrantes irão apenas do hotel para a pista, e vice-versa, e as regras de
distanciamento social, o uso de máscaras, além dos exames e testes que serão
feitos, não deixarão o pessoal se distrair o mínimo possível, o que só
contribuirá para aumentar o stress que normalmente já se tem em um fim de
semana de corrida. Agora imagine isso multiplicado por seis, e sem ter as
opções de distração nos poucos momentos de prazer que poderiam ter? Por mais
dedicados e concentrados no serviço, sem haver uma válvula de escape, mesmo que
mínima, todo mundo vai ver o cansaço bater em cima, e o stress então, nem se
fala.
A solução adotada pela
F-E não deixa de ser interessante, e se não é a melhor, talvez seja a mais
possível. Talvez pudessem adotar uma pausa maior entre uma rodada dupla e
outra, quem sabe dois ou três dias, ao invés de um. As datas divulgadas ainda
não são definitivas, e podem ser alteradas. Vale lembrar que temos mais de um mês
até lá, e quem sabe a situação evolua de modo a permitir algumas mudanças na
forma como serão realizadas as seis provas?
O que não deve mudar é
a intensa competição que a categoria de carros monopostos elétricos deve
apresentar nesta super rodada de corridas. E, com todo mundo sendo posto à
prova, neste ritmo de competição inédito, muita coisa pode acontecer, desde os
azares normais de uma corrida de competição, até os problemas que poderão
surgir do desgaste anormal do equipamento, e do cansaço que deverá castigar os
profissionais da categoria. Podemos ver um final de temporada ainda mais
imprevisível do que o esperado. Até a paralisação das atividades, a F-E já
tinha disputado cinco provas na atual temporada. Com mais as seis corridas,
teremos um total de onze provas então, um número até bem satisfatório para a
competição.
Na classificação, o
português Antonio Félix da Costa, da equipe DS Techeetah, ocupa a liderança,
com 67 pontos. Mith Evans, da Jaguar, é o vice-líder, com 56 pontos. Alexander
Sims, da BMW Andretti, é o 3º colocado, com 46 pontos. Maximilian Guenther,
companheiro de Sims na BMW Andretti, vem logo a seguir, com 44 pontos. Lucas Di
Grassi, da Audi, é o 5º colocado, com 38 pontos, empatado com Stoffel
Vandoorne, da Mercedes. Felipe Massa, nosso outro representante na competição,
é o 19º colocado, com apenas 2 pontos. Na disputa de equipes, a DS Techeetah
lidera com 98 pontos, seguida pela BMW Andretti, com 90 pontos. A Jaguar é a 3ª
colocada, com 66 pontos. A Nissan e.Dams é a 4ª, com 57 pontos, 1 a mais que a
Mercedes, a 5ª colocada.
Todos os competidores
mais bem colocados vão enfrentar um cenário bem particular nesta maratona de
seis provas. O stress e o cansaço, além do desgaste do equipamento, serão
detalhes mais do que cruciais, e podem tanto ajudar quanto dificultar o sucesso
dos pilotos. O ponto positivo é que, por ser uma pista montada em uma grande
área plana, os problemas que a categoria vinha enfrentando de pistas estreitas
e/ou travadas demais em alguns pontos poderão ser minimizados na montagem da
pista, o que poderá ser bem útil para evitar choques entre os competidores,
panorama que estava sendo comum na temporada passada, e passou a ser mais
estudado na atual temporada, com a organização tendo feito medidas pontuais nas
pistas a fim de melhorar as condições de disputa, e evitar acidentes por causa
do estrangulamento da largura da pista, além de facilitar ultrapassagens com a
eliminação ou suavização de algumas chicanes. Tempelhof, por outro lado, não
apresentou estes problemas, justamente por não ter estes problemas na montagem
de seu traçado, o que certamente deverá ser bem levado em conta para a
concepção dos traçados que a categoria irá utilizar nas corridas que fará por
lá.
Então, aguardemos a
divulgação de como serão realizadas as provas, e esperemos que possamos
assistir a boas corridas no antigo aeroporto alemão. Os fãs da velocidade
agradecem.
O grid da F-E para as seis
corridas que serão disputadas em Berlim terá duas mudanças. Daniel Abt foi
despedido da equipe Audi, após deixar um “dublê” competir em seu lugar em uma
corrida virtual, o que levou o piloto a ser punido e multado, além de acabar
perdendo seu lugar na escuderia das quatro argolas. Abt e Lucas Di Grassi eram
a única dupla que ainda permanecia a mesma, desde a estréia da F-E, em 2014. A
outra mudança será na equipe Mahindra, uma vez que Pascar Werhlein anunciou seu
desligamento da escuderia indiana. O seu destino provavelmente deverá ser o
WEC, embora o piloto ainda não tenha dado maiores detalhes de onde irá
competir, afirmando apenas que não teria como terminar a temporada do jeito que
planejava. A Mahindra ainda não anunciou quem será seu novo piloto, o que
deverá ser feito em breve. Já a Audi confirmou para o lugar de Daniel Abt a
contratação de René Rast, que foi bicampeão do DTM com a própria Audi.
Lucas Di Grassi, piloto da Audi,
tem um bom retrospecto na pista de Tempelhof, mas alerta que precisará ver como
seu time conseguiu melhorar o carro para as seis corridas, uma vez que, nas
provas disputadas até agora, o brasileiro reconheceu que seu carro não estava
tão competitivo quanto o de outros times, e que a equipe precisava trabalhar
para melhorar sua performance, a fim de permitir que ele brigasse pela vitória
nas provas seguintes. Lucas está 29 pontos atrás do líder Antonio Félix da
Costa, e vai precisar muito de uma melhorada no carro para poder reverter essa
desvantagem. Vejamos como ele irá se apresentar nesta maratona de corridas...
Tempelhof, em seus tempos como aeroporto de Berlim. |
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