sexta-feira, 5 de junho de 2020

O FIM DA WILLIAMS?

Robert Kubica marcou o último ponto da Williams na F-1, na temporada de 2019, quando o time terminou em último lugar na competição. Situação difícil para uma escuderia que já foi a mais poderosa da categoria.

            A notícia não deveria ser exatamente uma novidade, pelo momento difícil que muitos sabiam que o time estava passando. Mesmo assim, o anúncio feito na semana passada, onde a equipe Williams de F-1 praticamente anuncia que está à venda, encerra o último bastião dos garagistas na Fórmula 1, e deixa um ar de tristeza para quem conheceu o time de Frank Williams em seus melhores momentos, e o viu se arrastar na pista na última temporada. Uma situação parecida vivida por outro time emblemático, a McLaren, mas com o atenuante de que, apesar das dificuldades, parece ter iniciado um processo de restruturação com vistas a retornar ao pelotão da frente, de onde anda ausente desde 2012, o que não é o caso do time de Grove.

            Ainda que a escuderia tenha produzido um carro mais competitivo para esta temporada, todos concordam que dificilmente o time sairá da segunda metade do pelotão. Todos os rivais melhoraram, e a Williams precisa não apenas acompanhar esta evolução, como crescer mais do que seus concorrentes, uma situação que normalmente já é difícil, mas fica ainda mais complicada quando as finanças não ajudam. E infelizmente, o balanço geral da escuderia apontou prejuízo no cômputo geral de 2019, e como desgraça pouca é bobagem, a situação da pandemia da Covid-19 prejudicou o fluxo de caixa do time, que ainda por cima, rompeu com seu patrocinador principal, a Rokit, em razão da falta de pagamentos. O orçamento para 2020, que já não era generoso, agora deixa a incerteza se o time conseguirá completar o ano adequadamente. Por mais que a Liberty Media tenha conseguido antecipar alguns pagamentos que as escuderias teriam direito, o fato de ter terminado 2019 na última colocação já deixa o time em situação periclitante neste sentido. E a própria Claire Williams afirmou que, sem corridas, o time não verá dinheiro entrando, o que torna tudo ainda mais difícil.

            Por essas e outras, muitos já não se perguntam se a Williams terá o mesmo destino de outros times icônicos da história da F-1, como Lotus, Brabham, Tyrrel, ou Ligier, mas quando será o seu último suspiro. Todos os times citados tiveram seu momento de glória na história da categoria máxima do automobilismo, mas um a um, todos foram sendo varridos para a vala da história do automobilismo, desaparecendo depois de muitos anos de baixos resultados. E sem terem como conseguirem voltar aos tempos de glória, todos estes times fecharam as portas, deixando muitas saudades em seus torcedores. Em todos eles, uma única certeza: má gestão é um pecado capital, e ele raramente perdoa. Não por acaso, é o que estamos vivenciando atualmente no time de Frank Williams, e não é de hoje.

            Preso a uma cadeira de rodas desde 1986, devido a um acidente de carro, Frank Williams sempre foi um exemplo de determinação e perseverança na criação e desenvolvimento de sua escuderia. Mas sua condição física, que já não era boa, simplesmente se tornou ainda mais pronunciada nesta última década. Era preciso trocar o comando do time, e Frank acabou por escolher sua filha Claire para liderar o time em seu lugar. Todos concordaram que não foi a melhor escolha, e isso não é questão de ser machista nem nada. A filha de Frank não foi mesmo talhada para comandar o time, e infelizmente, isso revelou-se desastroso.

Frank Williams, o fundador, e sua filha Claire, atual chefe da escuderia.
 
            Em 2014, com o início da nova era híbrida turbo, a escuderia deu uma grande sorte por usar a unidade de potência da Mercedes, equipe que dominou a temporada daquele ano. Dispondo de uma unidade de eficiência impressionante, e com um carro decente, a Williams terminou o ano em 3º lugar, ficando atrás apenas da campeã Mercedes, e da Red Bull. Era um bálsamo vermos de novo os carros do time andando entre os primeiros, e quem sabe, poderiam até voltar a vencer uma corrida, não fosse a supremacia da Mercedes. Em 2015, outro ano até bom, com a escuderia voltando a terminar a temporada em 3º lugar. Se era preciso reconhecer que não dava para fazer muito contra o time da Mercedes, ao menos a escuderia inglesa parecia viver um pouco melhores dias. Afinal, quem não queria ver um time clássico voltar a frequentar o pódio, e figurar entre as primeiras colocações? Todo mundo torcia por isso.

            Infelizmente, apesar de um bom patrocínio, uma excelente unidade de potência, e uma dupla de pilotos consistente e de potencial, o time estagnou novamente, e tornou a perder terreno. Contratações equivocadas, falta de coordenação técnica, além de recorrer ao esquema de pilotos pagantes, são muitas as falhas que ficaram visíveis nestes últimos anos, onde vimos o time novamente cair para trás no grid.

            A situação econômica do time se revela ainda mais crítica depois dos empréstimos vultuosos feitos junto a Michael Latifi, pai de um dos pilotos do time para esta temporada, e a bancos britânicos, lembrando ainda que a divisão de tecnologia avançada do grupo foi vendida em fins do ano passado, a fim de se pagar empréstimos feitos algum tempo antes. Com previsão de pagamento dos empréstimos até 2026, entretanto, o fato de terem anunciado que estão procurando novos investidores, com opção de assumirem a integralidade da escuderia, só reforça a sensação de que a Williams está no fim da linha, por mais que Claire Williams tente se manter otimista, ao afirmar que com um novo investidor, o time pode se manter, e até renascer na categoria. Pode até ser, mas não há garantia alguma disso. Quem assumir a direção pode até manter o nome Williams, como fez Ron Dennis ao assumir a equipe McLaren no início dos anos 1980, mas também pode dar outro nome ao time, e se desvincular completamente do histórico que o time tem na F-1, do fim dos anos 1970 até os dias atuais.

Em 2014, o time renasceu na nora era híbrida, terminando a temporada em terceiro lugar, e Felipe Massa conseguiu a última pole da escuderia, na Áustria.

            Ralf Schumacher, que pilotou para o time entre 1999 e 2004, acredita que a Williams só se salvará se renovar completamente seu corpo diretivo, e sendo franco e direto, afirmou que a equipe precisa ficar livre tanto de Frank quanto de sua filha, Claire, que na sua opinião, não tem condições de comandar a escuderia com a competência que os tempos atuais exigem. Não é difícil concordar com ele. Devido à idade avançada, e à sua condição física precária, Frank Williams já não tem mais a clareza das idéias que o permitia dirigir o time. E Claire, como vimos, infelizmente não tem a finesse exigida para coordenar a escuderia. Escolhas erradas foram feitas, várias delas, e agora, já não há como voltar atrás. As cobranças e prejuízos que a falta de resultados e más gestões provocaram vai ceifar o último dos times que ainda resistia. A escuderia, que sempre foi um orgulho familiar, e até mesmo da Inglaterra, dá seus últimos suspiros. Os tempos atuais da F-1, infelizmente, já não são compatíveis com o estilo de gestão ainda preconizado por Frank e seguido por Claire.

            Um fim a se lamentar, claro. Mas, que equipe teve um fim que podemos considerar “decente”? Nenhuma, praticamente. A Lotus sempre dependeu da genialidade e condução de seu fundador, Colin Chapman. Quando este se foi, o time ainda se aguentou mais uns tempos, mas depois, começou a decair mais e mais, e tudo o que conseguiu foi prorrogar o inevitável. Jack Brabham passou seu time adiante, assim como Guy Ligier, em épocas que mostravam que as escuderias já não eram mais as mesmas. Ambas ainda tiveram alguns bons momentos, como quando a Brabham foi novamente campeã com Nélson Piquet, mas logo voltou ao ostracismo, e à decadência. Ken Tyrrel, a exemplo de Frank Williams, nadou contra a correnteza, por muito mais tempo que seu compatriota, mas no fim, capitulou, vendendo seu time para um grupo empresarial, e saindo de cena. Todos os finais foram melancólicos, sem fazer justiça às conquistas alcançadas nas pistas. E a Williams já teve muitos momentos de glória, mas nem isso, infelizmente, evitou que ela chegasse ao estado em que se encontra atualmente. Todo time tem seus altos e baixos, ao longo de sua existência. Infelizmente, a escuderia inglesa tem tido mais baixos que altos nos últimos tempos, por uma série de fatores muito além de uma simples má gestão.

Os bons tempos da Williams: em 1986 e 1987 (acima), Nélson Piquet e Nigel Mansell sobravam sobre a concorrência, com Piquet a ser campeão em 1987. Em 1996 e 1997, Damon Hill e Jacques Villeneuve (abaixo) conquistaram os últimos campeonatos da escuderia.

            Frank Williams também tinha lá suas teimosias. Para alguns, o fato de não aceitar vender seu time para a BMW em meados da década passada foi o ponto fatal que fez a escuderia perder o bonde da história da nova F-1, mas discordo um pouco disso. A BMW, desgostosa, rompeu a parceria com o time de Grove, e comprou a Sauber, assumindo o time suíço, como gostaria de ter feito com a Williams. E com a BMW à frente, a ex-Sauber chegou até a ganhar corrida, mas com a crise econômica de 2008, os alemães puxaram o carro ao fim de 2009, após um ano ruim, devolvendo a escuderia suíça a seu fundador, Peter Sauber, que anos depois, novamente venderia seu time, novamente em crise financeira, a um grupo de empresas, que hoje está sob a batuta da Alfa Romeo, tendo o time sido renomeado. Possivelmente a Williams não estaria melhor do que hoje, quem sabe? Mas talvez Frank tivesse se tocado de que seus métodos de mando no time já não eram os melhores, e poderia ter feito uma transição colocando gente mais capacitada em seu lugar, ao invés de sua filha, como forma de manter o controle ainda 100% familiar. A teimosia em manter tudo “ainda em família” não pode ser ignorada, em que pese que Frank teve a oportunidade de indicar seu filho, Jonathan, para assumir a direção do time. Jonathan tinha, segundo muitos, qualidades para gerir a escuderia muito melhores do que Claire, que acabou escolhida. Talvez sob seu comando, o time estivesse melhor, talvez não. Jamais saberemos. A decisão da escolha sobre quem dirigiria o time parece ter deixado cicatrizes, uma vez que Jonathan acabou “encostado”, e Claire, com um estilo mais autocrático, segundo muitos, começou a fazer a coisa desandar.

            Mas não se pode culpar apenas Claire por isso. Frank quis se manter no controle tanto quanto possível, ou pelo menos, manter a família no controle. Nada de errado se ao menos preparasse sua sucessão devidamente, o que não foi o que vimos. Mas já vimos vários casos de empresas bem-sucedidas que, ao serem assumidas pela prole, levaram o resultado de anos de trabalho arduamente feito por seus genitores virarem poeira. Há pouco tempo, Ron Dennis desligou-se do Grupo McLaren, deixando apenas Frank Williams como último representante de uma era saudosa da F-1. Uma era que agora está com seus dias finalmente se encerrando, mesmo que o time continue existindo sob um novo proprietário, já que tudo indica que Frank e seu legado estão dando seus últimos passos. Esperemos que ao menos o nome Williams permaneça, assim como o nome McLaren vem sendo mantido, para os anais da história da categoria máxima do automobilismo. Pelo menos, algo ainda restará para ser lembrado do que ele significou um dia para a F-1, tendo começado de forma humilde, até ser, em alguns momentos, a escuderia mais poderosa da categoria, quando era o time a ser vencido.

 

E o campeonato da Indycar começa enfim amanhã, com a disputa da prova do Texas, no circuito do Texas Motor Speedway, em Forth Worth. E a melhor notícia para os fãs brasileiros da categoria foi que o Grupo Bandeirantes renovou, ao menos para este ano, o contrato de transmissão das corridas, o que dará aos torcedores a opção de acompanhar em um canal de TV as provas, que até então tinham como única opção a transmissão pelo site de streaming Dazn, que mostrará também os treinos, ao vivo. A prova será exibida ao vivo no canal pago Bandsports, a partir das 21 horas deste sábado. Com a falta de eventos esportivos decorrente da pandemia da Covid-19, os canais esportivos ficaram limitados a reprisar eventos antigos em sua maior parte da grade, e com a perspectiva de poder mostrar algo novo, a emissora paulista resolveu tentar negociar a volta da transmissão da Indycar, cujo contrato havia se encerrado ao fim de 2019, com a emissora anunciando que não o renovaria. Procurada, a direção da Indycar aceitou fazer um novo contrato de transmissão, algo muito apreciado diante dos problemas operacionais que a pandemia causou nos campeonatos esportivos. As corridas devem ser transmitidas apenas pelo canal Bandsports, com exceção óbvia para as 500 Milhas de Indianápolis, que este ano acontecerão em agosto. Mas, dependendo da audiência, outras corridas poderão ser exibidas no canal aberto da Bandeirantes, e quem sabe, o contrato seja renovado para as próximas temporadas. Para quem estava começando a ficar resignado a não termos mais as transmissões da Indycar na TV, trata-se de uma boa notícia. Resta esperar que ao menos a Indycar possa propiciar uma transmissão de imagem e som decentes, e não aquelas imagens de baixa resolução e péssima qualidade de som que vimos nas transmissões da Nascar exibidas no Fox Sports.

Alegando problemas econômicos decorrentes da pandemia da Covid-19, a equipe Carlin anunciou que irá disputar a prova do Texas com apenas um de seus carros, que terá Conor Daly ao volante. Com isso, a perspectiva de Felipe Nasr alinhar com o segundo carro da escuderia, o que iria ocorrer na prova de estréia da competição, em São Petesburgo, ficará adiada. Para os brasileiros, restará o consolo de que Tony Kanaan irá alinhar no grid, já que seu contrato com a Foyt, em seu ano de despedida da categoria, previa sua participação apenas nas corridas em ovais, caso da prova do Texas. O brasileiro, aliás, terá um motivo a mais para se motivar na prova texana: seu carro terá o patrocínio da 7-Eleven, rede de lojas de conveniência, e que foi sua principal patrocinadora por muitos anos na década passada, quando estava defendendo o time de Michael Andretti, como quando foi campeão da Indy Racing League, em 2004. O brasileiro se disse emocionado em poder competir mais uma vez com seu icônico patrocinador, em seu ano de despedida da Indycar. E a prova em Forth Worth traz boas recordações a Kanaan: ele venceu na pista oval em 2004, quando foi campeão, e ainda subiu ao pódio mais oito vezes, cinco delas na 2ª posição, e as outras três em 3º lugar. Resta esperar que ele possa ter satisfação à altura em sua corrida de despedida do circuito, com o carro da Foyt lhe permitindo ter um desempenho muito melhor, ao contrário do que vimos nos últimos dois anos, com a escuderia andando para trás no grid, e arrastando o brasileiro para longe de melhores resultados. Devido à pandemia da Covid-19, a corrida do Texas, assim como a primeira prova no traçado misto de Indianápolis, programada para o dia 4 de julho, ocorrerão com portões fechados, sem público. As provas serão realizadas com a presença mínima de pessoal, e todos os profissionais que trabalharão no circuito serão testados, além de terem de seguir um rígido protocolo de segurança e isolamento. Não é o ideal para se começar a disputa do campeonato, todos admitem, mas é o que dá para ser feito no momento, a fim de viabilizar o início da competição. Todos esperam que, em agosto, para a disputa das 500 Milhas de Indianápolis, já seja possível ter algum público nas arquibancadas, mas ninguém tem certeza de como estará o panorama da pandemia até lá.

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