Hora de trazer mais uma de minhas antigas colunas. Esta, foi lançada no dia 11 de fevereiro de 2.000, e o assunto principal era a tão aguardada estréia da Jaguar na temporada daquele ano da F-1, após a Ford comprar o time de Jackie Stewart e assumir de vez um maior envolvimento com a categoria máxima do automobilismo, e escolher a marca britânica para batizar a sua nova empreitada. Se a Stewart não tinha os recursos financeiros para se tornar um time de ponta, essa lacuna havia sido preenchida com a marca norte-americana assumindo o time. Mas, infelizmente, faltou competência para gerir o projeto, que depois de alguns anos de muitos gastos e poucos resultados, fez com que a Ford desistisse da F-1 e saísse pela porta dos fundos, ao fim da temporada de 2004. Nenhuma vitória, ou pole, ou mesmo sequer um pódio foi conquistado, apenas alguns poucos pontos entre 2000 e 2004. Um fiasco como as prometidas vitórias da BAR em sua estréia na competição, alguns anos antes.
Curiosamente, a estrutura da equipe foi comprada, vejam só, pela Red Bull, e com o passar dos anos, com gestão competente, e muito investimento, os resultados foram aparecendo, vitórias e poles surgiram, e aquele time é hoje a Red Bull Racing, equipe que está dominando a atual temporada da F-1, com Max Verstappen. A Ford, por sua vez, nunca mais voltou à categoria máxima do automobilismo depois daquele fiasco, mas, coincidência das coincidências, marcou seu retorno à F-1 para 2026, fazendo parceria justamente com... A Red Bull, no projeto de suas unidades de potência, substituindo a partir daquele ano as atuais unidades, criadas a partir do projeto da Honda na F-1. O mundo dá voltas, não?
O retorno se dará com a marca Ford mesmo. Já a Jaguar, por outro lado, atualmente está “rugindo” em outra categoria, na Formula-E, onde compete, e é uma das forças da atual temporada da competição. Uma boa leitura a todos, e aguardem que em breve trago mais textos antigos por aqui...
A JAGUAR QUER RUGIR NA F-1
A praticamente um mês da estréia do campeonato deste ano, uma das expectativas que o circo da Fórmula 1 guarda é a estréia da Jaguar na categoria. Marca de carros esporte de luxo, o nome foi o escolhido pela Ford para renomear a equipe de Jackie Stewart, agora de propriedade da fábrica americana que dá o seu passo mais ousado para fincar de vez seu nome na categoria máxima do automobilismo. No ano passado, a Stewart, ao lado da Jordan, foi uma das sensações do campeonato.
A Jordan por pouco não entrou na luta pelo título, e conseguiu até pole e vitória com Heinz-Harald Frentzen. Já o time do tricampeão Jackie mostrou excelente performance em algumas corridas, conquistou uma pole-position, ainda que de modo fortuito, e ainda venceu sua primeira prova, na corrida maluca que se viu em Nurburgring. Se para este ano a Jordan quer continuar crescendo, a expectativa cresceu mais ainda em relação ao time de Stewart, que acabou comprado pela Ford, e que agora tem, teoricamente, todas as ferramentas necessárias para enfim avançar rumo ao topo da F-1.
Para a Ford, é o passo que faltava em seu longo relacionamento com a categoria. Foi graças ao investimento da fábrica estadunidense que o projeto de motor concebido por Mike Costin e Keith Duckworth saiu do papel nos anos 1960, e criaria o mais célebre motor já utilizado pela F-1 até hoje, o Cosworth V-8. A qualidade do projeto permitiu que o notável propulsor se mantivesse competitivo por mais de uma década, apenas com mudanças pontuais no projeto do motor, que equipou praticamente quase todos os times na época. O investimento da Ford mais do que se pagou, e o nome Ford-Cosworth se tornou praticamente sinônimo de sucesso nas categorias automobilísticas, tendo desenvolvido motores para outros campeonatos, como a F-Indy original (atual F-CART).
O advento da era turbo, contudo, começou a complicar as coisas para a Ford e a Cosworth. Pouco fiáveis a princípio, era questão de tempo até os novos motores turboalimentados deixarem os velhos atmosféricos na poeira, já que a diferença de potência era abismal. Apesar das evoluções feitas no propulsor, os velhos Ford agüentaram o tranco até 1982, quando Keke Rosberg conquistou o último título com os velhos DFY, a mais recente evolução dos DFV. A partir de então, os motores V-8 atmosféricos foram derrotados pelos motores turbo, com o primeiro título de um motor desta categoria em 1983, com Nélson Piquet e a BMW, que equipava a Brabham do brasileiro.
A Ford demorou a se mexer, e apenas em 1987 apresentou um motor turbo, equipando a equipe Benetton. O novo motor tinha potencial, mas precisava ser desenvolvido, e com o anúncio da volta dos motores aspirados em 1989, a fábrica americana abortou o desenvolvimento do V-6 biturbo para retornar aos antigos V-8 já em 1988. A idéia era sair na frente quando os demais fabricantes lançassem seus motores em 1989. Foi criado então o DFZ V-8, com a qual a Ford pretendia restaurar as glórias dos velhos DFV.
Não deu certo: Renault, Honda, e Ferrari, trouxeram unidades mais potentes na forma de novos V-10 e V-12, e mesmo a nova geração HB dos motores Ford-Cosworth não se mostrou à altura das novas unidades da concorrência. Era preciso ser mais ousada e investir mais, mas a Cosworth dependia de mais agilidade da Ford para equilibrar a briga, e isso nunca foi conseguido de forma eficaz. O passo mais bem sucedido, com a introdução da série Zetec, que foi campeã em 1994 equipando a Benetton de Michael Schumacher, não era o suficiente, e a Ford foi campeã mais pelos percalços enfrentados pela Williams naquele ano, com a morte de Ayrton Senna, do que pela qualidade de seu motor, que ainda era inferior aos Renault franceses.
Apenas em 1997 a Ford trouxe um motor V-10, com o qual esperava enfim tirar o seu déficit de potência, equipando a novata equipe Stewart. Mas demorou até o ano passado não apenas para que o time criado por Jackie acertasse o rumo na categoria, como a própria Ford se dar conta que precisava assumir o desafio de competir na F-1 de forma integral. Com a concorrência a estabelecer elos fortes, e até adquirir alguns times, e as boas perspectivas da Stewart de crescimento para 2000, a Ford finalmente deu o passo que faltava.
Para este ano, a meta da nova equipe Jaguar é continuar crescendo. Apesar de terem perdido Rubens Barrichello para a Ferrari, o time agora conta com Eddie Irvinne, que foi vice-campeão ano passado, e sabe em que pontos o time da Ford precisará melhorar se quiser desafiar as potências Ferrari e McLaren. E o time continua com o inglês Johnny Herbert, que é um piloto competente e que quando tem sorte não perde a oportunidade, como foi na vitória no GP da Europa ano passado. É cedo para falar em títulos, e talvez até em vitórias. Mas não para pensar em pontuar regularmente, e até almejar alguns pódios.
Apesar de bem administrada, a Stewart padecia de recursos limitados para desenvolver a contento seu carro. O time nunca teve problemas financeiros, mas para alcançar o desenvolvimento necessário precisava investir muito mais do que tinha disponível. Recursos que agora certamente não faltarão ao time. A Ford também precisa melhorar o seu motor V-10, que apesar de ter dado um bom salto de qualidade no ano passado, ainda pecou em vários aspectos, como potência e consumo de combustível, dois fatores que jogaram por terra vários resultados em potencial em diversas corridas.
Não é apenas nestes aspectos, mas a unidade concebida pela Cosworth também precisa ganhar mais potência. Ferrari e Mercedes não apenas levam vantagem em todos os quesitos do propulsor em relação à unidade da Ford, como ainda contam com excelentes carros produzidos pelos departamentos técnicos de Maranello e Woking. Se agora a ex-Stewart terá recursos financeiros para enfim desenvolver o carro como precisa para conseguir atingir o nível de excelência de Ferrari e McLaren, a Ford também precisa se mexer, e garantir à Cosworth todos os recursos para transformar seu motor no melhor da F-1.
De minha parte, o visual novo dos carros ficou horrível com aquele verde substituindo o design sóbrio e singelo usado pelo time até o ano passado. Mas, se os carros começarem a andar entre os primeiros, e porventura até conseguirem ganhar corridas, pode-se relevar tal pecado. Afinal, na categoria, a máxima é de que carro bonito é carro que vence, não importa como esteja pintado. E a Jaguar, podem estar certeza, quer entrar fundo para rugir na F-1, e se impor frente aos concorrentes. Vamos esperar que saiba usar bem os seus recursos, e consigam se intrometer nas brigas do pelotão da frente, ajudando a acabar com o marasmo da disputa McLaren X Ferrari, no qual a categoria máxima do automobilismo se tornou nos últimos anos, apesar da disputa dos títulos terem se estendido até o fim do campeonato. Quanto mais gente na briga, melhor...
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