Atual campeão, Francesco Bagnaia vai para as férias de verão da MotoGP na liderança do campeonato e favorito para o bicampeonato.
Com a realização do GP
da Holanda, a MotoGP parte para suas férias de verão com a confirmação do
domínio esperado da Ducati na temporada, ainda que não exatamente da forma como
era esperada. Outra certeza é de que dificilmente o título escapa novamente da
marca de Borgo Panigale, e mais especificamente do atual campeão mundial,
Francesco Bagnaia, que aos poucos vai se tornando o grande favorito para reprisar
o título na classe rainha do motociclismo.
Isso não significa que o campeonato 2023 da MotoGP está enfadonho. Longe disso. As disputas na pista, em que pese o domínio da Ducati em linhas gerais, tem sido bem acirradas em diversos momentos, e as bandeiradas de chegada raramente tem sido dadas com grande vantagem do vencedor sobre os demais participantes. Ninguém conseguiu até agora arrasar os rivais na pista, como alguns imaginavam. Só para se ter uma idéia, a maior margem de vitória em corrida até aqui no ano foi de 4s256, no triunfo de Marco Bezecchi na prova de domingo do GP da França. Outras provas, como em Portimão, foram decididas por uma diferença de 0s685. Portanto, podemos dizer que as provas deste ano tem visto muita luta pela posição mais alto do pódio, na maioria das vezes com pelotões compactos de disputa na pista, e muita briga por posições.
Mas, diante destas disputas, porque dizer que o domínio da Ducati, apesar de estar sendo visto, não é como se esperava? Simples: os triunfos não estão restritos ao time oficial de fábrica da marca de Bolonha. Embora a Ducati oficial lidere o campeonato de pilotos, de oito provas disputadas até agora (domingo apenas), foram 4 triunfos para o time de fábrica, e 3 vitórias de seus times satélites (2 da VR46 e uma da Pramac). Apenas a Honda conseguiu, apesar de todos os seus percalços, furar esse domínio, com a vitória de Álex Rins no GP dos Estados Unidos. Já no que tange às provas Sprint, a situação é um pouco diferente, ainda que a Ducati seja a marca dominante. Tivemos 3 vitórias da Ducati oficial, e outras 3 de seus times satélites (2 da Pramac e 1 da VR46). Aqui a KTM surge como intrusa com duas vitórias. Então, se contarmos corridas Sprint e corridas de domingo, com 16 corridas, o panorama é de 7 vitórias da Ducati de fábrica, 6 dos times satélites, dois triunfos da KTM, e 1 da Honda.
E, neste contexto, Francesco “Pecco” Bagnaia, o atual campeão, vem conseguindo se destacar. Destas 16 provas, ele já acumula 7 vitórias, contra 3 de Jorge Martin e Marco Bezecci. Brad Binder venceu duas com a KTM, enquanto Rins foi o triunfo solitário da Honda até aqui. No campeonato, “Pecco” lidera com 35 pontos de vantagem para o segundo colocado, que neste momento, é Jorge Martin, da Pramac, time satélite da Ducati, que a exemplo do que Enea Bastianini fez ano passado na Gresini, vem fazendo uma temporada bem consistente e de alta performance. Não menos impressionante é Marco Bezecchi, da VR46, time de Valentino Rossi, e também satélite da Ducati, que ocupa a 3ª posição no campeonato, apenas 1 ponto atrás de Martin, num duelo bem equilibrado entre os melhores nomes dos times satélites da marca italiana no ano. Na verdade, a Ducati tem 5 pilotos no TOP-6 do campeonato. Johaan Zarco, da Pramac, é o 5º colocado, seguido por Luca Marini, da VR46, em 6º. O único “intruso” na dinastia da Ducati é Brad Binder, da KTM, atual 4º colocado na tabela.
Marco Bezecchi (acima) e Jorge Martin (abaixo) estão duelando pela vice-liderança do campeonato, em times satélites da Ducati, confirmando a força da marca de Bolonha na atual temporada da MotoGP.
No panorama visto até aqui, Bagnaia conseguiu se firmar na liderança, mas o início do ano foi um pouco mais complicado do que o esperado, com o atual campeão revivendo alguns de seus momentos mais baixos de 2022, sofrendo quedas que poderia ter evitado, e jogando fora alguns resultados potencialmente bons. Mesmo assim, “Pecco” colocou a cabeça no lugar, e nas últimas corridas, esteve sempre no degrau mais alto do pódio, ou pelo menos no pódio. Com isso, os 35 pontos de vantagem apresentados ao fim da prova de Assen são um conforto significativo, já que em tese dificilmente ele perderia a liderança na próxima etapa, caso tudo desse errado para ele. Por outro lado, é também um lembrete de que deve manter o foco, pois ainda temos mais de meia temporada pela frente, e diante das corridas vencidas por margens mínimas até agora, constância será fundamental para evitar reveses inesperados, garantindo pontos quando lutar pelo primeiro lugar significar riscos mais altos, e problemas maiores.
Bagnaia tem sorte de estar no time de fábrica da Ducati, o que em tese lhe garante a melhor condição das Desmosédicis na competição, mas é preciso que tanto ele quanto o time atuem em sintonia, para obter o melhor rendimento do equipamento, algo que pode ser muito bem apresentado por seus times satélites, mesmo que estes não tenham tantos recursos técnicos quanto a equipe oficial da marca. As motos ainda são basicamente as mesmas, sendo que a Pramac compete com o mesmo modelo do time oficial, enquanto a VR46 utiliza o modelo do ano passado, que levou Bagnaia ao título, e se mantém ainda bem competitiva, graças ao bom trabalho não apenas da escuderia VR46, mas também da performance de Bezecchi. Mas o atual campeão ganhou um “bônus” inesperado nesta primeira metade da temporada 2023: a ausência de Enea Bastianini na maioria das corridas. O piloto se acidentou na etapa inaugural da temporada, em Portimão, e ficou de fora das provas de Portugal até a França. Com isso, ele perdeu a chance de medir forças com “Pecco” pela primazia do time, e agora tem de correr atrás do prejuízo, ocupando apenas a 18ª posição no campeonato, com apenas 18 pontos, contra os 194 de Bagnaia.
A KTM vem fazendo uma temporada bem satisfatória (acima), enquanto a Aprilia, sensação da temporada de 2022, ainda não mostrou a mesma força em 2023 (abaixo).
Imaginava-se um duelo entre ambos dentro da Ducati na luta pelo título da temporada, dado o favoritismo da marca italiana, mas com o azar de Bastianini, Bagnaia não teve essa competição interna, e embora a Ducati não anuncie fazer jogo de equipe, é bem verdade que Enea perdeu sua grande chance de entrar na briga. Ele ainda não encontrou sua melhor forma, de modo que o máximo que poderá fazer será lutar para vencer algumas corridas, já que o título está perdido. Bom para os rivais até aqui, especialmente Martin e Bezecchi, que estão duelando pela vice-liderança, e claro, almejam tentar alcançar Bagnaia. Claro que isso teve um custo para a Ducati: o time de fábrica ocupa “apenas” a 3ª colocação no campeonato de equipes, estando atrás de seus times satélites Pramac e VR46. No campeonato de construtores, contudo, a marca italiana está deitando e rolando, com uma larga vantagem sobre a KTM, a vice-líder na competição.
Portanto, para sorte da MotoGP, a Ducati não está dominando o campeonato com seu time de fábrica como se imaginava. Bagnaia é o líder, mas sua vantagem, apesar de firme, e ter crescido nas últimas etapas, não tem sido arrasadora como alguns esperavam, graças ao bom trabalho feito pelos times satélites e seus pilotos. Mesmo assim, é inegável constatar que a concorrência está muito aquém do que se poderia esperar. A KTM é quem tem se mostrado como maior rival da Ducati até agora na temporada, o que dá uma amostra de como a situação está abaixo do esperado, no que tange à disputa na competição.
Certo, já sabíamos que dois nomes de peso, Honda e Yamaha, teriam um ano complicado. A Honda não conseguiu apresentar uma moto competitiva, e os esforços de Marc Márquez para obter melhores resultados até aqui resultaram em mais quedas e tombos do que pontos, chegando a fazer o heptacampeão perder a confiança no equipamento, que tem se mostrado indócil, e tem feito vítimas de quedas todos os seus pilotos na categoria, deixando a marca nipônica desfalcada em vários GPs diante dos machucados e lesões sofridas por seus pilotos. Álex Rins, do time satélite LCR, por incrível que pareça, conseguiu uma impressionante vitória em Austin, num lampejo de luz na temporada obscura vivida pela Honda. Marc Márquez ainda conseguiu um pódio na prova Sprint de Portimão, mas ficou nisso. Nas demais etapas, a Honda viu suas poucas chances de bons resultados irem para o chão junto com Marc Márquez, que mais uma vez tem tentado andar mais do que a moto pode oferecer. A paciência do hexacampeão não anda lá as melhores, e já surgiram boatos de que ele pode ir para outro time, se a situação persistir. O problema é que apesar dos esforços, a Honda não parece conseguir dar passos significativos para melhorar sua moto. O problema já não vem de hoje, mas se esperava que, com a nova temporada, e com Marc Márquez completamente recuperado, o time japonês acertasse o passo e apresentasse um equipamento mais competitivo, o que não ocorreu. Assim, já é o 4º ano seguido onde a marca simplesmente virou uma figurante no campeonato, depois de faturar 6 títulos na década passada.
Na Yamaha, o panorama também é desanimador. Apesar do título de 2021, e do vice-campeonato de Quartararo no ano passado, a marca dos três diapasões sofreu uma queda vertiginosa este ano, e sua dupla de pilotos tem batalhado para conseguir resultados dentro do TOP-10, tendo conquistado apenas um pódio com Quartararo em Austin como melhor resultado. O francês é apenas o 9º colocado no campeonato, com Franco Morbidelli em 11º. Assim como Márquez, Quartararo até ensaiou um momento mais positivo aqui e ali, mas a exemplo da “Formiga Atômica” também não conseguiu ser bem-sucedido, e também acabou sofrendo alguns tombos que resultaram em lesões e abatimento moral do piloto. E a Yamaha ainda sofreu outro revés este ano, que foi a perda de seu time satélite RNF, que cansou do tratamento recebido da marca japonesa, e preferiu competir com motos da Aprilia. Se no campeonato de equipes a Yamaha é a 6ª colocada, no campeonato de construtores é a lanterna da classificação, perdendo da Honda justamente por ter apenas 2 motos no grid, contra 4 da rival, ainda que por pequena margem de diferença. E a situação do time dos três diapasões só não é pior porque outra rival compatriota, a Suzuki, resolveu abandonar a competição ao fim de 2022, pois do contrário, poderia estar perdendo de dois times rivais conterrâneos, e não apenas de um. De qualquer forma, tal como a Honda, a Yamaha não aparenta conseguir uma evolução na atual temporada, pelo menos que dê para conseguir uma redenção este ano. O jeito é torcer para conseguirem se recuperar em 2024, mas a exemplo do que vem ocorrendo com a Honda, isso não tem nenhuma garantia de acontecer.
E, se tem um time que pode ser considerado realmente decepcionante em 2023 é a Aprilia. A marca italiana terminou 2022 como uma das surpresas da temporada, tendo conquistado suas primeiras pole e vitória na competição, inclusive com Aleix Spargaró tendo terminado o ano em 4º lugar, tendo se metido na disputa do título quase até o final, quando as aspirações da escuderia acabaram atropeladas por alguns momentos abaixo do desempenho esperado. Mesmo assim, a Aprilia tinha terminado o ano no lucro, e com vistas a vir mais forte nesta temporada, o que acabou não acontecendo, infelizmente. O time, além de não render o que esperava, parece ter regredido. Se a boa forma da Ducati já era esperada, sua rival italiana não dava a entender que sua forma para a temporada atual seria tão débil. Após 8 provas, Aleix Spargaró é apenas o 8º colocado, enquanto Maverick Viñalez é o 12º. Maverick conseguiu um 2º lugar em Portugal, dando esperanças de que a Aprilia viria novamente forte este ano, mas dali em diante o desempenho não se confirmou. Spargaró ainda foi 3º em Assen, mas só. Diante dos fracos resultados, não é de admirar que a Aprilia tenha sido superada pela KTM na classificação de construtores, ficando em 3º lugar. No campeonato de equipes, ela é a 5ª colocada, novamente atrás do time austríaco, em 4º.
É verdade que a adoção das provas Sprint na temporada atual tem dado um tempero extra à disputa da classe rainha do motociclismo, mas para muitos, o tempero foi um pouco além do ponto. Ao realizar corridas curtas em todas as etapas, eles alteraram a dinâmica dos fins de semana, e os ânimos da competição ficaram um pouco exaltados, com os pilotos exagerando na dose nas disputas dos fins de semana. Como resultado, os tombos, quedas e demais acidentes tiveram um aumento significativo em relação ao ano passado, com vários pilotos sofrendo as consequências, de modo que praticamente não tivemos o grid titular da MotoGP presente nas etapas da competição em momento integral. Sempre houve algum desfalque, seja por acidente ou queda, ou recuperação devido a lesões sofridas em provas anteriores. O interesse pelo campeonato pode até ter aumentado, mas para muitos, ao custo da maior exposição dos pilotos aos riscos da competição. Mesmo com os competidores baixando um pouco a adrenalina, e se contendo mais nas manobras de disputa de posição, ainda assim o número de ausências segue elevado. Tudo bem que competição de moto já é algo mais arriscado do que o normal em se tratando de competições do mundo do esporte a motor, afinal os pilotos não dispõem de um chassi que os proteja de eventuais acidentes, mas mesmo assim, certas condições de risco podem ser minimizadas com alguns cuidados. Mas o que a FIM e a Dorna fizeram foi aumentar o tempo de corrida em praticamente 50%, em relação a uma temporada que já é bem extensa. Claro que isso iria cobrar o seu preço.
Espera-se maior bom senso quando for planejada as atividades de competição da temporada do ano que vem, aprendendo com os acertos, e observando muito bem os erros deste ano. Que eles não se deixem levar pela euforia de um campeonato que vem sendo bem disputado, apesar do favoritismo do atual campeão mundial, e tenham a sabedoria de corrigir rumos que precisam ser revisados. Agora, a MotoGP retorna apenas em agosto, em Silverstone, com pouco mais da metade das etapas ainda por ser disputada, e com a certeza de que deveremos ver muitas brigas e duelos na pista pelos melhores resultados da competição, e quem sabe, algumas surpresas no campeonato.
A F-1 volta à pista neste final de semana, com o Grande Prêmio da Áustria, a segunda etapa do ano com realização da corrida Sprint, que está marcada para este sábado, a partir das 11:30 Hrs. E a FIA resolveu promover uma mudança nas regras, permitindo que os pilotos usem compostos macios mesmo usados na fase Q3 da classificação para a corrida curta. A regra, que também tinha sofrido mudança de última hora quando foi realizada a primeira prova Sprint do ano, em Baku, previa que os pilotos teriam que utilizar pneus novos nesta fase, mas como alguns pilotos já não dispunham de compostos macios novos, eles ficavam prejudicados na disputa, de forma que agora poderão utilizar estes compostos, mesmo que não sejam novos. O resultado da corrida Sprint no Azerbaijão, contudo, foi decepcionante, e fica a expectativa se aqui em Zeltweg o panorama será diferente, ou se a Sprint pouco mudará a situação do fim de semana, ainda mais depois que a FIA desvinculou o resultado da prova curta da classificação da corrida de domingo, cujo treino de definição do grid será feito hoje, a partir das 12:00 Hrs.
Sergio Perez não participou das atividades de mídia nesta quinta-feira na Áustria, devido a uma indisposição estomacal, e sua participação era dúvida até o fechamento desta matéria, de modo que o time rubrotaurino teria de considerar quem substitui o mexicano caso ele não consiga correr no fim de semana. Daniel Ricciardo, terceiro piloto do time, poderia ser a escolha óbvia, mas falam de Yuki Tsunoda, e até de Liam Lawson, piloto da Super Formula japonesa. E o tempo é ainda mais curto para Perez por causa da corrida Sprint, já que a classificação para domingo será feita hoje. Quem será que irá correr?