sexta-feira, 20 de maio de 2022

BALANÇO NA MOTOGP

A Ducati tem a moto mais competitiva do grid, mas quem está surpreendendo na temporada não são os pilotos da equipe oficial (acima), mas Enea Bastianini (abaixo), com o time satélite Gresini, com três vitórias obtidas até o momento, contra apenas uma do time de fábrica.


            Decorrido um terço da temporada 2022, a MotoGP está mostrando um campeonato equilibrado, sem que se possa apontar um favorito na luta pelo título. E tivemos bons pegas na pista, com algumas surpresas, algumas nem tão inesperadas assim, outras mais surpreendentes.

            Das surpreendentes, as maiores são a campanha de Enea Bastianini, e o anúncio da Suzuki de se retirar da competição ao fim do ano. Enquanto o piloto italiano da equipe Gresini vem mostrando suas garras nas corridas, sendo o único piloto até aqui a vencer mais de uma vez, o anúncio da equipe japonesa pegou todo mundo de surpresa, e deixou a Dorna bem irritada com a atitude, precisando lembrar a escuderia de suas obrigações contratuais com a categoria.

            Bastianini é praticamente o nome do momento, e cotadíssimo para assumir um lugar no time oficial da Ducati no próximo ano. A escuderia de Bolonha já tem contrato com Francesco Bagnaia para seguir no time em 2023, e a vaga de Jack Miller está por um fio, e muitos já dão como certa a substituição de Miller por Bastianini, ainda mais depois do que vimos domingo passado em Le Mans, onde a decepção foi o sentimento principal nos boxes da equipe de fábrica, vendo o resultado de seus dois pilotos, superados pelo piloto da Gresini, um time satélite da Ducati que é o último da fila nas opções da marca italiana, que tem também a Pramac e a VR46 como suas prioridades como times satélites na classe rainha do motociclismo. E surpreende o desempenho de Enea pelo fato de ele contar com o modelo GP21, a moto do ano passado, enquanto todos os demais competem com a Desmosédici atual, a GP22. E o fato de competir com um equipamento teoricamente já defasado explique a inconstância de alguns resultados, com Enea conseguindo ir bem em algumas pistas, e não tão bem em outras, onde ficou até longe do pódio, sem brigar pelas primeiras posições. Como ninguém está conseguindo descolar na frente, o piloto está lá, entre os primeiros, ocupando no momento a 3ª posição no campeonato com 94 pontos, apenas 8 atrás de Fabio Quartararo, o líder da competição.

            Certamente, a promoção de Bastianini ao time de fábrica passa pela direção da Ducati com muita atenção, embora o piloto não seja o único a ser considerado nessa operação. Jorge Martin, da Pramac, também é outro piloto que vem sendo analisado, embora até aqui sua comparação seja muito desvantajosa, frente ao desempenho do titular da Gresini, especialmente pelo fato de Bastianini estar levando seu time nas costas, enquanto na Pramac, é Johaan Zarco quem tem trazido mais resultados para o time até agora, com 62 pontos, contra 28 de Martin. Por outro lado, a situação de Enea lembra a bela campanha de Franco Morbidelli em 2020, quando foi vice-campeão por um time satélite da Yamaha, e promovido ao time principal, até agora não mostrou a que veio na equipe dos três diapasões, lembrando o risco que pode ocorrer na promoção de Bastianini ao time de fábrica de Borgo Panigale.

            Mas tudo é feito de riscos, e neste momento, a Ducati precisa ser objetiva e analisar todos os dados, e tomar uma decisão que seja imparcial e focada nas suas necessidades, e no que seus pilotos tem apresentado. E vale lembrar que a dupla atual, que vem tendo seus altos e baixos, foi promovida no “expurgo” feito pela marca de Andrea Dovizioso e Danilo Petrucci ao fim da temporada de 2020. A dupla demorou a engrenar no ano passado, de modo que quando reagiu, já era tarde para impedir a conquista do título por parte de Fabio Quartararo; e neste ano, até aqui Bagnaia e Miller não tem conseguido manter constância, mesmo com o bom equipamento em mãos, que tem rendido mais nos times satélites do que na equipe de fábrica, pelos resultados apresentados até aqui, sinal de que não é apenas na pista que a Ducati precisa avaliar melhor suas opções e atitudes. Equipamento e condições eles têm, lembrando que das sete provas disputadas até aqui, quatro foram conquistadas com motos Ducati, enquanto Yamaha, Aprilia, e KTM venceram apenas uma corrida cada uma.

Situações opostas: enquanto Joan Mir (acima) foi surpreendido com a intenção da Suzuki de deixar o campeonato ao fim da atual temporada, Aleix Spargaró (abaixo) está mais do que contente com a excelente forma da Aprilia este ano, com chances até de lutar pelo título.


            Quanto à Suzuki, embora o anúncio “oficial” não tenha sido efetivado, tanto que o time emitiu um comunicado ambíguo onde não confirma, mas também não desmente sua saída ao fim do ano, pode-se dizer que o time japonês dará adeus novamente à classe rainha do motociclismo, e o resultado surpreende depois de conquistar o título de 2020, e de fazer bons esforços para tentar repetir o feito este ano. E só não está melhor porque na pista tiveram azares e incidentes evitáveis, como mais uma queda de Álex Rins domingo passado, quando o piloto brigava pelas primeiras posições em Le Mans. O anúncio do abandono deixou Joan Mir, o campeão de 2020, bem chateado, já que ele tencionava seguir no time no próximo ano, e agora precisa se lançar ao mercado, em um momento onde as opções para o próximo ano, se não estão fechadas, certamente não estão tão favoráveis como se poderia estar, com as principais equipes já com seus planejamentos para 2023 bem encaminhados. Para não falar também dos próprios profissionais do time de fábrica, que devem ficar desempregados, se não conseguirem se reposicionar no mercado. E o campeonato vem se mostrando sem favoritos destacados até aqui, o que significa que a Suzuki tem chances de lutar pelo título, se tiver um pouco mais de sorte na pista, claro.

            De fato, perder um time de fábrica não é algo que qualquer categoria aprecie, pois a competição, em si, acaba desprezada, no sentido que a fábrica participante não vê mais interesse em continuar. Por outro lado, as fábricas só competem mesmo quando há interesse, e isso quer dizer quando a relação custo/benefício é vantajosa para a fábrica, mesmo que os resultados de pista deixem a desejar. Mas, quando dão na telha, eles pulam fora sem a menor cerimônia, se necessário, embora na maioria das vezes sejam feitos comunicados da decisão. E, infelizmente, hoje em dia, as relações de uma fábrica com uma categoria são muito mais complicadas e difíceis. Para entrar, já precisam cumprir vários protocolos, além das diretrizes do regulamento, e para sair, fica ainda mais complicado, porque as categorias TOP impõem obrigações dos competidores ficarem até tal temporada, com o pagamento de multas para quem descumpre os compromissos. Ter fábricas participantes da categoria sempre é bom, mas se começam a colocar muitos entraves para entrar e sair, os fabricantes vão investir em outros setores menos complicados e chatos de se tratar. A saída da Suzuki é uma notícia ruim, mas a MotoGP não vai acabar se perder um fabricante. Outros podem chegar, e neste momento, especula-se numa provável chegada da Kawasaki e até da BMW, embora nada esteja confirmado. Alguns saem, outros entram, é assim mesmo. E não são contratos impondo permanências que vão fazer diferença nestes momentos. A própria Suzuki tinha debandado da classe rainha do motociclismo em 2011, para retornar em 2015.

            E quem vem surpreendendo também é a Aprilia, que nas mãos de Aleix Spargaró, vem se colocando até na luta pelo título, chegando a vencer sua primeira corrida na MotoGP, e ajudando a embolar a disputa no campeonato. Aleix ocupa a vice-liderança do campeonato, com 98 pontos, apenas 4 atrás de Fabio Quartararo, e disposto a ir mais longe na luta, aproveitando o bom momento que seu time passa, e mostrando sua capacidade de pilotagem. Para sorte dos rivais, a boa forma da marca italiana não vendo explorada a fundo, já que Maverick Viñalez, o segundo piloto do time, até agora não engrenou na competição, ocupando apenas a 13ª posição, com apenas 33 pontos, praticamente um terço dos pontos de Aleix.

            Enquanto isso, temos dois campeões que estão claramente insatisfeitos com o momento atual de seus times. Na Yamaha, Fabio Quartararo, apesar de ser o atual campeão, não se v~e como favorito ao título, mesmo estando na liderança da competição. O piloto francês reclama que apesar de ter ritmo de corrida, os adversários estão mais fortes, e o equilíbrio da YZR-M1 não basta para conseguir ter alguma vantagem, diante de uma certa deficiência do motor, um problema que já não é de hoje, mas que pelo visto a marca dos três diapasões não consegue solucionar, haja visto que já há algumas temporadas todos sabem disso, quando até Valentino Rossi reclamava deste problema. E Fabio diz que, andar sempre a 100% não dá margem para folga na disputa contra os adversários, exigindo uma pilotagem perfeita, onde o menor erro pode colocar tudo a perder, e que quando isso acontece, não tem como se recuperar na pista. Um aviso para essa situação é a posição de Franco Morbidelli no campeonato, apagadíssimo até o presente momento, com apenas 19 pontos no campeonato, ocupando a 17ª posição, e que deveria servir de alerta maior para os japoneses, mesmo levando em consideração o mau momento de Franco na competição.

Fabio Quartararo (acima) lidera o campeonato, mas reclama de andar sempre no limite para conseguir enfrentar os adversários, enquanto Marc Márquez (abaixo) reclama do desempenho da Honda, e do novo comportamento da moto.


            Na Honda, é Marc Márquez que começa a mostrar certa insatisfação com as possibilidades de sua moto, uma vez que seu time, segundo ele, está ficando sem idéias de como melhorar a performance. O comportamento da moto atual, mais neutro, a fim de poder ser levada ao limite por todos os pilotos da marca, por incrível que pareça, parece não ter agradado muito ao hexacampeão, que agora fala não poder mais pilotar da maneira que lhe é mais natural, tendo que mudar seu estilo para se ajustar às novas reações de seu equipamento. Por outro lado, Márquez ainda sente as sequelas do braço quebrado em 2020, demonstrando que ainda não tem a mesma força no membro de antigamente, e depois das recentes quedas, que acabaram lhe trazendo algumas novas complicações, ele estaria mais propenso a evitar alguns riscos “desnecessários”, e não ido tanto ao limite como costumava fazer. Isso não é algo inesperado, já que ele começou a sentir os reveses dos acidentes, e portanto, normal tomar um pouco mais de cuidado na pista, a fim de evitar novas quedas, e possíveis complicações adicionais decorrentes disso. Mas isso também o estaria incomodando, por lhe tirar o ritmo de competição com o qual estava acostumado, e deixa-lo mais “lento” na luta contra os rivais. Diante dessa nova realidade, é necessário se adaptar, e o velho estilo da Formiga Atômica precisa ser repensado, a fim de evitar sofrer novos acidentes “evitáveis”, como para tirar o melhor do novo comportamento da moto, uma vez que a marca nipônica acabou ficando refém das performances de Marc, e sem ele, virou coadjuvante na competição. O desafio não é apenas para a Honda em si, mas também para Márquez, que como fenômeno da competição na última década, precisa também saber se ajustar ao momento, como Valentino Rossi já tinha feito quando precisou se reinventar para seguir competindo em alto nível. Caso contrário, os dias de glória do hexacampeão ficarão no passado, uma vez que os novos talentos que chegam não vão perder tempo em demarcarem suas posições. Mesmo com suas limitações, Marc já mostrou que seu talento ainda está lá, e só precisa se acertar ao equipamento, e claro, dispor também de uma moto mais competitiva para demonstrar isso, e se a fábrica conseguir melhorar seu protótipo, ele terá melhores chances de mostrar novamente do que é capaz.

            É um momento crucial para a Honda, e não basta lembrar que Marc Márquez estreou na classe rainha em 2013, ou seja, está perto de completar uma década de seu ingresso na MotoGP, e aos 29 anos, embora não seja “velho” para a competição, pode-se dizer que o hexacampeão já está entrando na segunda fase de sua carreira, onde ainda pode competir em alto nível, mas precisa começar a ter mais cuidado com outros detalhes, se quiser derrotar os rivais na pista. E a própria Honda precisa começar a pensar no futuro próximo, quando poderá não mais contar com o espanhol, a exemplo do que a Yamaha fez em relação a Valentino Rossi, testando Maverick Viñalez, e encontrando sua solução no atual campeão da categoria, Quartararo. E para isso, não pode continuar insistindo em uma moto que só Márquez conseguia levar ao limite na pista. Mas a moto atual precisa melhorar: Márquez, apesar de suas limitações, é apenas o 10º colocado na competição, com 54 pontos, e já se colocou fora da luta pelo título em 2022, não tanto pela diferença de pontos para os primeiros colocados, mas pela performance do equipamento. Tanto que Pol Spargaró, seu companheiro de equipe, está apenas em 12º lugar, com 40 pontos, e duas provas a mais que Márquez. Ou seja, as críticas de Márquez tem muito fundamento, não sendo apenas reclamações de dificuldades pessoais quanto ao equipamento.

            O campeonato tem mostrado um equilíbrio de performance entre vários pilotos, ainda que alguns tenham tido mais azares do que outros em termos de resultados. Do líder, Quartararo, até Joan Mir, o 9º colocado, pelo que cada um tem demonstrado, apesar dos altos e baixos, a diferença na pontuação não é tão complicada de se superar como pode parecer. Dependendo do que ocorrer em um GP, muita coisa pode mudar, e a luta ficar mais ou menos equilibrada. Não se pode prever como será o embate nas próximas corridas, e tudo pode acontecer, ajudando a deixar tudo ainda mais imprevisível do que já está. Vamos ver o que vai acontecer, e torcer para as disputas ficarem as mais equilibradas possíveis, com mais e mais duelos e disputas entre o maior número de pilotos possível. E que vença o melhor.

            E ainda temos dois terços da temporada para cumprir, o que aumenta ainda mais as expectativas de imprevisibilidade até o fim do ano...

 

 

A F-1 inicia hoje os treinos para o Grande Prêmio da Espanha, e as expectativas na pista da Catalunha estão voltadas para as atualizações da Ferrari e da Mercedes. O time italiano, depois de perder para a Red Bull nas duas últimas corridas, quer retomar o controle do campeonato, exibido nas primeiras corridas, e as novidades no SF-75 serão cruciais para neutralizar a ascensão do time dos energéticos e de Max Verstappen no campeonato, que também chegaram a Barcelona com novidades em seu bólido. Já a Mercedes terá o tira-teima para ver se consegue acertar o rumo de seu modelo W13 com as novidades projetadas para tentar melhorar o comportamento do seu bólido. Se as mudanças surtirem efeito, e o carro recuperar competitividade frente aos rivais, a Mercedes pode ter esperanças de dias melhores ainda na temporada deste ano. Caso contrário, provavelmente será necessária uma revisão por completo do carro, deixando de lado parte dos conceitos do modelo atual, e voltar a uma abordagem mais “convencional” do monoposto, além de dar por encerrada as perspectivas de uma recuperação em 2022 para já começar a planejar a temporada de 2023.

 

 

A Indycar define o grid para a edição deste ano das 500 Milhas de Indianápolis neste final de semana, com três sessões de treinos, sendo que o primeiro será disputado amanhã, sábado, e que definirá as vagas do 13º ao 33º posto no grid, com os 12 mais rápidos sendo classificados para seguir adiante no domingo, serão realizados dois treinos, um para definir as vagas do 7º ao 12º posto, e o treino final, com os seis mais rápidos disputando então a pole-position da corrida, que será realizada no dia 29 de maio. Felizmente, a prova mais importante do automobilismo do continente americano terá o grid completo de 33 carros, conseguindo escapar da ameaça de ter vagas sobrando no grid por falta de competidores. Mas não terá quem ficará sem largar, também.

 

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