Chegamos ao fim de março, e os principais campeonatos de automobilismo deram suas largadas, e com muitas disputas e duelos na pista nas mais variadas categorias de competição do mundo do esporte a motor mundo afora. Portanto, nada mais oportuno de trazer a primeira edição da Cotação Automobilística de 2022, com uma pequena avaliação dos acontecimentos e personagens do mundo da velocidade neste último mês, no velho esquema de sempre: Em Alta (menções no quadro verde); Na Mesma (quadro azul); e Em Baixa (quadro laranja). Portanto, tenham todos uma boa leitura, e cuidem-se todos, e até a próxima edição da Cotação Automobilística no mês de abril.
EM ALTA:
Equipe Penske: O time de Roger Penske parece ter se recomposto, depois da campanha instável na temporada passada na Indycar. Com duas etapas já realizadas, a escuderia praticamente venceu as duas corridas, primeiro com Scott McLaughlin, e depois com Josef Newgarden, que aliás arrancou o triunfo na etapa do Texas na volta final dando um drible no neozelandês, que lidera o campeonato com uma vitória e um segundo lugar. Quem vem forte também é Will Power, que vem na vice-liderança do campeonato, 28 pontos atrás de Scott. Newgarden, por conta de não ter tido um bom desempenho na corrida inicial, em São Petesburgo, ocupa a 4ª posição, apenas 4 pontos atrás de Power. Os pilotos da Penske ocupam três das quatro primeiras posições na classificação, tendo como “intruso” apenas o atual campeão, Álex Palou, que vem em 3º lugar. O recado para a concorrência está dado: o time do “capitão” está de volta, e vai em busca de mais um título na Indycar, além de mais vitórias. Aliás, o triunfo de Newgarden no oval de Forth Worth foi a 600ª vitória da Penske em competições automobilísticas desde que a escuderia foi fundada, décadas atrás. Esse número agrega as vitórias obtidas na pista em nada menos do que 14 categorias e campeonatos, mas mesmo assim não deixa de ser uma marca impressionante para uma organização de competição no mundo do esporte a motor. E o número de vitórias não vai parar de crescer tão cedo.
Charles LeClerc: O piloto monegasco já mostrou que será a nova dor de cabeça para Max Verrstappen nesta temporada. Com Lewis Hamilton fora da briga por causa do carro menos competitivo da Mercedes, o holandês vai ver que LeClerc pode ser mais duro de roer que o heptacampeão, especialmente agora que tem de novo um carro à altura, e que deve disputar o título da temporada. Charles venceu com autoridade a primeira corrida, no Bahrein, e deu combate na Arábia Saudita, marcando a melhor volta, e liderando o campeonato com serenidade, como se nunca tivesse deixado de lutar pelas primeiras posições, o que não teve condições de fazer nos últimos dois anos. E LeClerc tem que ficar atento também à competição interna, onde Carlos Sainz está sempre por perto para dar o bote, podendo complicar a vida do companheiro de equipe. Se não quiser dar brechas para Sainz, LeClerc tem que dar o melhor de si, especialmente para bater também Max Verstappen, com quem tem uma rivalidade até mais ardida e acirrado do que deste com Lewis Hamilton. Por enquanto, o clima entre ambos é de respeito e paz e amor, mas vamos ver como a situação ficará mais à frente. O pessoal aposta que não demorar a sair faíscas entre os dois na primeira dividida de curva mais fechada que derem um no outro...
Duelo Red Bull X Ferrari: Os dois times que melhor se saíram na pré-temporada da F-1 mostram a que vieram, com cada um conquistando uma pole-position cada, bem como uma vitória, e com duelos que foram de tirar o fôlego na pista, e também nos boxes, com ambos os times travando batalhas também nas estratégias de corrida. E com rendimentos similares, sem que um tenha uma vantagem significativa sobre o outro, o que indica uma batalha pelo título que tem tudo para durar até o final da temporada. A Ferrari mostrou ter concebido um grande carro, bem como evoluído sua unidade de potência com categoria, mostrando não apenas performance, mas acima de tudo, confiabilidade. Já a Red Bull, apesar dos esforços hercúleos dedicados à conquista do título de pilotos no ano passado, conseguiu produzir um carro muito competitivo, e por enquanto, as unidades de potência da Honda, agora sob responsabilidade da própria Red Bull, ainda que com assistência semi-oficial dos nipônicos, conservaram a elevada performance demonstrada no ano passado, oferecendo ao time dos energéticos as condições para repetir a conquista do título. Mas falta combinar com os italianos, que vivendo desde 2007 sem a conquista de um título, não vai deixar barato perder o duelo deste ano. E outra briga renhida entre dois times, e entre dois pilotos, é tudo o que os fãs da F-1 poderiam desejar, depois do duelo titânico visto ano passado.
Novas regras técnicas da F-1: Já não é de hoje que a F-1 baixa normas técnicas com o objetivo de tentar tornar a categoria máxima do automobilismo mais competitiva e disputada, com o objetivo de oferecer mais disputas e emoção aos fãs e telespectadores. Mas sempre os objetivos eram alcançados de forma bem insatisfatória, deixando a desejar nos resultados, que deveriam ser melhores do que os mostrados. Especialmente no que tange a facilitar as disputas e ultrapassagens, onde a turbulência dos carros impedia que se chegasse a um termo mais acessível para oferecer melhores oportunidades. Pois bem, desta vez, a F-1 conseguiu enfim acertar em cheio, com a volta do efeito-solo, e promovendo um perfil mais limpo na aerodinâmica dos carros, alterando o fluxo de ar que passa pelos bólidos, e eliminando a turbulência aerodinâmica que tanto afetava os carros que vinham atrás. É verdade que ainda há o que acertar nos projetos dos novos carros, mas ao menos até aqui, as novas regras conseguiram não apenas embaralhar a relação de forças entre as equipes, como permitiram que os novos bólidos pudessem andar bem mais próximos uns dos outros, sem serem afetados como eram antigamente. Agora dá para quem vem atrás “embutir” no carro que vai à frente, sem correr o risco de ficar com o carro desequilibrado e perder o controle, e com isso, oferecer melhores chances de disputas. Ultrapassar ainda é complicado, agora voltando a exigir também braço do piloto e performance do equipamento, algo que sempre foi necessário, mas oferece aos pilotos maior número de oportunidades para se tentar isso, sem comprometer sua segurança, e ajudando a dar maior emoção às corridas. E é briga na pista que o fã da velocidade quer ver, cada vez mais, e ao menos por enquanto, já tivemos um bom começo sob as novas regras técnicas, que assim que os times conseguirem compreender melhor seus carros, devem ajudar a termos ainda mais disputas entre os pilotos.
Ex-pilotos de F-1 em alta: O termo não é o mais correto, mas na prática, é um pouco da realidade. Kevin Magnussen, que ficou um ano fora da Fórmula 1, voltou à equipe Haas, e mesmo tendo menos tempo de conhecimento do novo carro do que Mick Schumacher, o outro piloto do time, deu um baile no piloto alemão, e garantiu para a escuderia pontos nas duas corridas disputadas até agora na temporada 2022, fazendo bom uso do potencial do atual bólido da Haas, que se dependesse de seu outro piloto, teria ficado zerada nos pontos, dada a diferença de resultados vista nos dois GPs, e ainda se considerarmos que Schumacher bateu forte em Jeddah, e não participou da corrida, além de ter dado quase US$ 1 milhão de prejuízo para o time com sua batida no treino de classificação. Na Aston Martin, chamado para substituir Sebastian Vettel, que estava com Covid, Nico Hulkenberg, que mal conhecia o carro do time, e não pilotava um F-1 há mais de um ano e meio, chegou metendo tempo no piloto Lance Stroll na classificação para a corrida do Bahrein. Verdade que Nico sentiu a falta de ritmo na corrida, ficando atrás do canadense, mas na Arábia Saudita, Hulkenberg já terminou na frente, deixando Stroll para trás na corrida, ainda que Lance tenha ficado apenas uma posição atrás e, claro, dando o devido desconto do canadense ter sido abalroado no meio da corrida por um adversário, o que o impediu de obter um resultado melhor. Enquanto alguns pilotos parecem demorar a engrenar com os carros da F-1, não deixa de ser impressionante como Magnussen e Hulkenberg, mesmo diante das dificuldades, pegaram a mão dos carros, mesmo sem guiarem os bólidos há tanto tempo, e enfiarem tempo nos ditos pilotos “titulares” e ou “veteranos” dos respectivos times, algo que conta muito a favor de suas capacidades, e ao mesmo tempo, joga contra as capacidades de Lance Stroll e Mick Schumacher.
NA MESMA:
Marc Márquez: A sina do hexacampeão da MotoGP continua complicada. Recuperado da diplopia que o fez perder as duas últimas etapas do campeonato de 2021, a “Formiga Atômica” estava pronto para voltar com carga total na temporada deste ano, e na primeira corrida, se não conseguiu disputar a vitória, estava ali por perto, em um resultado bem satisfatório para a primeira prova da temporada. Mas, na etapa seguinte, em Mandalika, na Indonésia, eis que o piloto da Honda sofreu um novo e forte acidente, do qual teve sorte de sair andando, dada a violência das imagens. Foi diagnosticado com concussão, e vetado de disputar o GP. Até aí, tudo nos conformes. Mas o pior foi chegar em casa, na Espanha, e constatar o retorno da diplopia, a visão dupla, que o fez ficar de fora das corridas finais de 2021, por causa do novo acidente, uma consequência que os médicos disseram que poderia ocorrer, em caso de nova concussão. A lesão atual, comparada à anterior, é menos grave, dizem os médicos, mas isso já coloca o hexacampeão novamente de molho, com a Honda já comunicando que ele irá ficar de fora da próxima corrida, na Argentina, e é dúvida para a prova seguinte, nos Estados Unidos. Se o problema se prolongar, e ele perder mais algumas etapas do campeonato deste ano, isso certamente vai comprometer seus planos de voltar a disputar o título. E voltam os boatos discutindo se isso poderia significar o fim da carreira de Marc Márquez, diante de mais um entrevero de saúde ocasionado por novo acidente no motociclismo, onde o piloto, que já escreveu seus anais na história da disputa das competições de duas rodas, deveria pensar em preservar a saúde a continuar se arriscando na pista, podendo sofrer um novo e talvez até pior acidente. De uma forma ou de outra, pode-se dizer que Márquez volta a ter um ano potencialmente complicado quando esperava iniciar seu retorno triunfal à competição, estando plenamente recuperado, depois do inferno astral vivenciado nos últimos dois anos.
Alexander Rossi: Outrora o novo fenômeno na Indycar, com direito até a vitória na Indy500, e tendo motivado um esforço conjunto da equipe Andretti com a Honda para evitar perdê-lo para times concorrentes há algum tempo atrás, Rossi parece ter entrado numa espiral de baixa das bravas, tendo enfrentado um verdadeiro calvário desde então. De postulante a vitórias no time de Michael Andretti, Alexander acabou completamente ofuscado por Colton Herta, que assume hoje a posição de principal estrela da escuderia, sendo cogitado por Michael até para a futura investida na F-1. Enquanto isso, nova temporada, novos ares, todo mundo espera. Mas Rossi parece que ainda continua no seu viés de baixa, sem conseguir voltar a ter os resultados de antes. E na temporada 2022, já começou mal, ficando classificado em 20º na corrida inicial, em São Petesburgo; e tendo de abandonar por problemas mecânicos no Texas. E como desgraça pouca é bobagem, a chegada de Romain Grosjean ao time, no lugar de Ryan Hunter-Reay, ameaça jogar Alexander ainda mais no ostracismo dentro do time da Andretti, de onde corre o risco de não mais sair, e de perder seu lugar na Indycar. Parece estar difícil de superar a zica que envolve o piloto, e a nuvem negra sobre sua cabeça parece que não vai deixa-lo de lado tão cedo. E depois, o que a Honda e Michael Andretti devem estar pensando, depois dos esforços que fizeram para manter o piloto no time e defendendo a marca nipônica na Indycar...?
Equipe Williams: O time de Grove tinha expectativas de melhores resultados na temporada de 2022, aproveitando o novo regulamento técnico, já que o time concentrou esforços no novo carro, e segundo Jost Capito, diretor do time, a restruturação da equipe, levada a cabo durante a temporada passada, já tinha deixado tudo nos seus devidos lugares, de modo que agora começava a difícil, e talvez lenta, caminhada do time de volta a melhores dias. Bom, o time até que teve uma primeira sessão coletiva de testes, em Barcelona, com boas expectativas de voltar ao meio do pelotão da F-1, deixando a rabeira do grid, onde ficou se engalfinhando com Haas e Alfa Romeo nas últimas duas temporadas. Mas, na segunda sessão coletiva de treinos, já no Bahrein, o bom momento do time pareceu ter dado marcha a ré, e as expectativas positivas se esmaeceram. E, começa a temporada, e infelizmente, tudo indica que, acertos e desenvolvimentos do novo carro à parte, os dias da equipe fundada por Frank Williams vão continuar difíceis e complicados em 2022. Nicholas Latifi, que deveria liderar o time na pista, por ser o veterano da equipe, já está sendo posto para trás por Alexander Albon, que volta a mostrar o talento que o levou a ser considerado para ser titular na Red Bull algum tempo atrás. Mas, azares, e falta de performance do carro, para não mencionar o problema aparente da falta de potência das unidades da Mercedes, colocam em xeque as mais otimistas expectativas que se tinha sobre o time, enquanto Alfa Romeo e Haas mostraram ter dado passos largos na melhoria de competitividade de seus carros, até disputando entre si a liderança do segundo pelotão da F-1. E, claro, alguns até ficaram chateados pela escuderia retirar dos carros o logo de homenagem a Ayrton Senna, que vinha desde 1994, mas como Capito havia dito, o time precisa olhar para o futuro, e não para o passado. Mas encarar o futuro próximo parece que vai continuar sendo bem complicado, e sem muitas esperanças de dias melhores...
Motores ficam como estão na Indycar em 2023: A mudança de propulsores planejada pela Indycar ganhou mais um adiamento. Antes prevista para esta temporada, com a adoção de sistemas híbridos, similares aos adotados pela F-1 no conceito, mas com sistemas mais simples, sua implantação já havia sido adiada para 2023, devido aos efeitos da pandemia da Covid-19, que atrapalhou todas as atividades nos últimos dois anos. E agora, acaba de ganhar novo adiamento, com sua introdução na categoria de monopostos dos Estados Unidos sendo prevista apenas para 2024, um ano a mais em relação ao último planejamento. A medida foi tomada em comum acordo com equipes e fornecedores de motor da categoria, e além de manter os custos estáveis, com a utilização dos atuais motores por mais um ano, resolve também os problemas que tanto Chevrolet como Honda estão enfrentando em relação ao fornecimento dos materiais necessários para o desenvolvimento dos novos sistemas híbridos, uma vez que o abastecimento destes produtos, que envolvem tecnologia avançada, não foram normalizados, com as cadeias de fornecedores ainda sentindo fortemente os efeitos da pandemia, o que tem atrapalhado os trabalhos de desenvolvimento dos projetos. Com mais tempo, os fabricantes tem chances de contornar a falta de peças essenciais aos projetos que estão enfrentando no momento, além de evoluírem os conceitos dos projetos de cada um. E ganham tempo também para a oportunidade de outros fabricantes poderem aderir às novas regras, tencionando se tornarem fornecedores da Indycar, e fazer concorrência às atuais fornecedoras do grid, Honda e Chevrolet.
Malásia firme na MotoGP: O circuito de Sepang, em Kuala Lumpur, capital da Indonésia, ficou de fora das últimas duas temporadas da MotoGP devido à pandemia da Covid-19, mas prepara-se para recuperar o tempo perdido, estendendo sua permanência na classe rainha do motociclismo pelos próximos anos. Acabou de ser assinado um acordo garantindo a realização da prova malaia até 2024, mas as tratativas para estender o acordo até 2026 já se iniciaram, mostrando que Sepang quer manter a corrida das motos no circuito, até mesmo para garantirem sua participação, diante da concorrência das praças “próximas”, como a Tailândia, e Indonésia, que também passaram a sediar corridas da MotoGP recentemente. Presente no calendário da competição desde 1999, os malaios não querem ficar para trás, obviamente, para garantir o prestígio da corrida “veterana” no sudeste asiático, então, os acordos para estender a realização da corrida pelos próximos anos é mais do que lógico. E também para manter uma competição internacional de alto nível na pista, depois que resolveram dispensar a F-1, diante das altas taxas cobradas, preferindo manter a MotoGP que custava bem menos. A prova em Sepang está marcada para o dia 23 de outubro, e além da extensão do acordo com a MotoGP, a Petronas continuará como uma das patrocinadoras da competição até 2024, no mínimo, mas podendo muito bem continuar, tendo participação maior nas categorias de acesso, a Moto2, e a Moto3.
EM BAIXA:
Circuito oval do Texas: A pista de Forth Worth pode ter sediado sua última etapa da Indycar no domingo retrasado. Outrora uma das pistas que proporcionavam mais disputas e emoções entre as corridas da temporada, o circuito ficou prejudicado com a aplicação de uma resina chamada PJ1, que ajuda na aderência dos carros da Nascar, mas tem o efeito contrário nos monopostos, tendo transformado um setor da pista numa "zona “proibida” onde quem se aventurasse ia parar no muro sem conseguir evitar, o que “estrangulou” esse setor da pista, prejudicando sobremaneira as disputas da categoria de monopostos. O problema já vem desde 2020, e não teve uma solução satisfatória, apesar de uma melhora na prova deste ano. Mas o público parece não ter tido paciência para esperar por melhores dias, com uma presença mais do que pífia na etapa deste ano, onde era nítido ver os espaços vazios nas arquibancadas da pista. A organização do evento não teria se esforçado para tentar cativar os amantes do automobilismo, de forma que a própria direção da Indycar teria que ter feito a promoção da prova, se quisesse um resultado melhor, algo que deveria ser do interesse direto dos promotores da corrida, e não exatamente da Indycar em si. E como a categoria tenta arrumar etapas que sejam mais viáveis, tanto do ponto de vista esportivo como financeiro, a corrida do Texas, antes tão badalada, parece em vias de cair no ostracismo, e ser rifada do calendário da categoria, como já foram outras pistas ao longo dos anos. E seria um circuito oval a menos no calendário, algo que tem preocupado a direção da Indycar, pela falta de maior número de corridas neste tipo de circuito. Como a direção da categoria já busca alternativas de novos circuitos ovais que possam integrar o calendário, tudo indica que Forth Worth não retorna na temporada de 2023 da competição.
Equipes Mercedes na F-1 2022: Campeã de construtores nos últimos oito anos consecutivos, ninguém poderia imaginar o calvário que a escuderia da estrela de três pontas vivenciaria neste início de temporada com as novas regras técnicas. Não apenas o modelo W13 se mostrou, até aqui, o projeto mais desafiador e complicado da equipe desde o início da era híbrida turbo atual da F-1, como a própria unidade de potência alemã parece ter contraído “anemia”, sendo a pior UP em velocidade final. Enquanto o time de fábrica se debate com o comportamento instável do carro, que sofre mais do que todos os demais com as quicadas do efeito porpoising do efeito-solo, impossibilitando Lewis Hamilton e George Russel de se intrometerem no duelo Ferrari X Red Bull, os demais times equipados com os propulsores germânicos também estão vivendo um calvário: a Aston Martin parece pior este ano do que no ano passado; a Williams quer sair da rabeira do grid, mas parece não conseguir deixar as últimas colocações; e a McLaren, depois de três anos de evolução constante e firme, com vistas a buscar vencer novamente na categoria e quem sabe disputar o título, também sofreu um tombo de performance considerável, que não pode ser atribuído somente á menor cavalaria disponível nas UPs da Mercedes. Equipando três times no grid, além de sua equipe de fábrica, ninguém imaginava um tombo de tal magnitude na performance da Mercedes nesta nova era de retorno do efeito-solo. E o pior de tudo é que, com o congelamento do desenvolvimento das unidades de potência, previsto para durar até o fim de 2025, a Mercedes corre o risco de ficar alijada em relação aos concorrentes, se não conseguir resolver essa situação, dentro das limitações estritas das regras em vigor justamente a partir deste ano. Quem te viu, quem te vê...
Mick Schumacher: O filho do heptacampeão Michael Schumacher vai ter de mostrar serviço este ano, se ainda quiser ser considerado para assumir um carro mais competitivo na F-1, como era esperado de ocorrer até pouco tempo atrás, uma vez que contava com o apoio da Ferrari, além do sobrenome do pai, que certamente abre muitas portas no mundo do automobilismo. Mas tudo parece estar indo na contramão. Primeiro, a renovação de Carlos Sainz pela Ferrari, depois da excelente temporada do piloto espanhol em 2021, fechou as portas no time italiano para Mick pelo menos até o fim da temporada de 2024. Segundo, a chegada de Kevin Magnussen de volta à Haas, depois de um ano competindo no campeonato de endurance dos Estados Unidos, iria colocar Mick na obrigação de andar forte perante um piloto de velocidade mais do que comprovada, ao contrário do sempre duvidoso Nikita Mazepin, com quem dividiu boxes em 2021 e ganhou fácil do russo. E confirmou-se o pesadelo: Magnussen já deu de 2 x 0 no duelo contra o alemão neste início de temporada, mesmo tendo conhecido o novo carro apenas na segunda sessão de testes pré-temporada no Bahrein, tendo sido uma das sensações das duas primeiras corridas, terminando sempre nos pontos com o revigorado carro da Haas, que já marcou mais pontos neste início de 2022 do que nas duas últimas temporadas inteiras. E terceiro: Mick continua “invicto” em Jeddah, tendo batido forte no circuito árabe no ano passado, e voltando a bater forte este ano, destruindo o carro, e dando muito prejuízo para a escuderia, que acabou correndo apenas com Magnussen na prova da Arábia Saudita. Ou Mick reage, e mostra do que é capaz, ou vai ver suas esperanças de fazer carreira na F-1 sumirem inesperadamente, visto que vários outros pilotos estão na fila de espera para ocupar um lugar, e mesmo sendo bancado pela Ferrari, pode acabar ficando de molho, se o time italiano ver que tem opções melhores na manga...
Dois pesos e duas medidas na F-1: A etapa da Arábia Saudita foi um momento tenso para o pessoal da categoria máxima do automobilismo. O ataque de rebeldes do Iêmen, que travam uma guerra contra a Arábia Saudita, contra uma refinaria de petróleo nos arredores de Jeddah na sexta-feira, deixou todo mundo apreensivo, a ponto de se considerar até mesmo cancelar a corrida, devido ao clima de perigo potencial. Mas, depois de muitas discussões e reuniões com as autoridades árabes, acabou optando-se por disputar o GP, que felizmente ocorreu sem maiores percalços no resto do fim de semana. Mas, em um momento onde a F-1 cancelou o GP da Rússia deste ano, e futuros, por causa da invasão russa na Ucrânia, condenando a agressão de Vladimir Putin à nação vizinha, torna-se um contrassenso a F-1 correr em países que enfrentam conflitos armados, ainda que não “oficiais” (entre governos, leia-se). Isso, para não falar de regimes ditatoriais, que com frequência desrespeitam os direitos humanos, e que usam o esporte como tentativa de melhorar sua imagem, procurando encobrir seus malfeitos. E todo mundo sabe que o regime de Riad nega vários direitos às mulheres, e á população em geral, não admitindo críticas mais veementes às suas decisões. E o histórico de desrespeito aos direitos humanos na Arábia Saudita não é nem um pouco abonador. Mas o governo do país árabe resolveu usar seus vastos recursos financeiros para “comprar” a realização de eventos esportivos mundiais, com o objetivo de “ficar bem na fita” perante o mundo, oferecendo uma visão mais benigna de seus países que muitas vezes está extremamente longe da realidade da maioria dos seus cidadãos. E, no que tange ao mundo do esporte a motor, a Arábia Saudita já “comprou” participação nos campeonatos da F-E, além da F-1 e F-2, tendo também garantido a realização do Rali Dakar nos últimos dois anos e pelos próximos anos também. Stefano Domenicalli, novo CEO do Liberty Media, por sua vez, declarou que a F-1 pode ajudar a “modernizar” o país, e que não vê nada de errado com a situação vivenciada pelos sauditas no fim de semana, alegando que isso já é algo normal para eles, embora não para o pessoal da F-1. Bom, certamente o fato da Aramco ser uma das principais patrocinadoras do campeonato mundial de F-1, além de vários GPs, deva ter alguma influência na resposta dada por ele. Não é uma situação exatamente simples, mas a F-1, mais uma vez, lava as mãos, e isso não ajuda na credibilidade que a categoria máxima do automobilismo quer propagar pelo mundo afora. Enquanto o dinheiro jorrar, está tudo bem, e dane-se o resto...
Nikita Mazepin: o piloto russo despediu-se da F-1 sem deixar ninguém com saudades. Conhecido mais pelas rodadas que deu na pista do que por performance propriamente dita, Nikita já chegou malvisto à categoria máxima do automobilismo pelos problemas com assédio de garotas, criando certo mal-estar que só foi tolerado pelo time da Haas porque eles estavam desesperados pelo dinheiro do patrocínio da empresa do pai do piloto, a Uralkali, que continuaria despejando milhões no time, se Vladimir Putin não inventasse de invadir a Ucrânia e dar início a uma guerra totalmente injustificada, o que motivou um boicote dos Estados Unidos e da União Européia ao país governado pelo autocrata, que se refletiu também no mundo dos esportes, atingindo em cheio Mazepin, ainda mais porque seu pai é um dos oligarcas que enriqueceram na Rússia devido à proximidade com o governo de Putin. E como a Haas é um time dos Estados Unidos, deu ruim: romperam o acordo com a empresa russa, e sem as costas quentes do “paitrocínio”, o time não pensou duas vezes em dispensar Nikita. Pior ainda foi ver que o piloto chamado para substituí-lo, Kevin Magnussen, apesar de mais de um ano sem contado com um carro de F-1, chegou “chegando” de volta em sua antiga escuderia, dando uma sova em Mick Schumacher, que por sua vez, dava sova em Mazepin, mostrando como o russo, infelizmente, era ruim como piloto. Tivesse mais talento e capacidade, e não aprontasse fora das pistas, certamente a Haas até poderia considerar mantê-lo como titular, mas como não tinha, a escuderia simplesmente se livrou de uma mala sem alça que além de não fazer falta, ainda ajudou o time a reencontrar o caminho para melhores resultados na F-1. Dinheiro conta muito, mas não é tudo, enfim...