Depois de algumas evasivas, a Renault anunciou na quarta-feira que amanhã e domingo, enfim, Bruno Senna terá sua chance de testar com o carro R31 e mostrar do que realmente é capaz ao volante de um carro de F-1. Mas o teste também se estenderá ao alemão Nick Heidfeld, que muitos apontam como o favorito à fava para substituir o polonês Robert Kubica, que se acidentou gravemente disputando uma prova de rali no último domingo. Kubica, felizmente, está reagindo muito bem, e está totalmente fora de perigo, mas seu estado inspira cuidados, pois ainda serão necessárias outras cirurgias para corrigir os ferimentos que adquiriu no acidente, onde diga-se de passagem, teve muita sorte, pois pelo modo como o guard-rail enfiou-se no carro do polonês, por uma questão de centímetros, as coisas poderiam ter terminado bem piores.
A Renault passou a viver o drama do que esperar de sua temporada. O novo chassi R31 mostra potencial, mas todo o time estava baseado no polonês, uma vez que Vitaly Petrov, o outro piloto titular, está lá apenas pelo patrocínio da Lada, que garante uma boa grana ao time francês. Petrov fez uma temporada de estréia apenas mediana em 2010, e se não fosse o patrocínio russo, provavelmente não teria tido outra chance nesta temporada. O próprio Kubica preferia que a escuderia tivesse outro piloto mais veloz, para ajudar nos resultados. Petrov teve alguns bons desempenhos, mas precisa ser muito mais constante e veloz, do contrário, sua chance acaba ao final do ano. Mas o problema é que Kubica era a peça fundamental do time. Depois de terem tido um ano excelente em 2010, levando-se em conta que ninguém esperava nada da Renault, as metas para este ano eram mais ambiciosas, e Kubica era um ponto importante no projeto. O polonês conseguiu substituir Fernando Alonso mais do que à altura. Conseguiu que o time esquecesse o espanhol. Sua postura incentivava, motivava, ele tornou-se o líder do time, e estava mais do que nunca entusiasmado com as perspectivas para o campeonato deste ano.
Agora, com o acidente, Kubica irá disputar o maior desafio de sua vida, que é recuperar-se plenamente. Os médicos estão otimistas pela recuperação que o polonês vem demonstrando desde domingo, mas ainda é cedo para avaliar quanto tempo levará para ele estar apto novamente. Muitos inclusive dizem que, dependendo da situação, Kubica pode até se recuperar, mas não para voltar à F-1. Sua mão ainda precisa ser melhor avaliada, uma vez que sofreu seqüelas graves, e precisou de uma cirurgia complexa para ser salva. Mas não é apenas a mão que preocupa, mas também todo o lado direito do piloto, que sofreu diversas fraturas, que exigirão novas cirurgias e tratamentos. A batalha está apenas começando, e o tempo estimado para uma recuperação total é de pelo menos 1 ano. A temporada 2011 da F-1 já era para ele. E para a Renault, pode ter ido junto, pois nunca houve um “plano B” de ação para uma eventualidade como esta...
Voltando ao dilema da Renault, a justificativa de se procurar um piloto experiente para substituir seu principal titular é válida. Porém, isso também é de certa forma uma injustiça para com os “reservas” anunciados pela escuderia, nada menos do que 5 pilotos. Bruno Senna, em tese o “primeiro” reserva, tinha a promessa de que, em caso de uma eventualidade, seria o principal substituto de Kubica e Petrov. Mas, se o time então está buscando outro nome, de que adianta então ser o “reserva” do time se o time não vai usá-lo? Neste ponto, é uma tremenda sacanagem, pois o reserva, em tese, deve estar preparado para entrar de cabeça na necessidade de ser utilizado. Como no futebol, cada time tem de ter confiança naqueles que escolhe para ficar no banco. Caso contrário, para que deixá-los lá? Bruno Senna, ao que parece, terá enfim sua chance se mostrar que pode merecer a vaga, mas muitos dizem que Heidfeld já estaria escolhido de antemão, e que o teste, seria apenas para conferir “autenticidade” à avaliação.
Eric Boullier conhece Bruno Senna, mas declarou que, devido ao ano do brasileiro na Hispania em 2010, perdeu um pouco a noção do que Bruno é capaz. Convenhamos, se Bruno não fez nada em 2010, a culpa maior é do carro que pilotou, que nem de longe oferecia uma performance digna de F-1, perdendo em alguns aspectos até para a performance de um carro da GP2. Nem mesmo o confronto com seus companheiros de equipe serve muito de parâmetro, pois a equipe era uma bagunça só, e não se pode nem dizer que houve homogeneidade de condições. Bruno, claro, aproveitou para aprender com as dificuldades, e certamente deve ter tirado boas lições da experiência de correr uma temporada quase completa. Em 2008, quando testou pela Honda, Ross Brawn considerou o brasileiro muito profissional e talentoso. Só não o contratou porque, com a debandada da Honda, ele precisava de um piloto que pudesse desenvolver o carro a contento, um talento que não era possível verificar em Bruno, além de experiência, pois com recursos contados, quanto mais bagagem, melhor. Bruno agora tem alguma bagagem, e a Renault não é um time tão necessitado quanto foi a Brawn. O que joga contra são as pretensões elevadas que o time tinha para este ano. Se fosse em 2010, talvez Senna fosse escolhido mais facilmente, pois havia menos pressão na escuderia, que só queria apagar o escândalo vivido em 2009.
O fato é que Bruno está diante da oportunidade de sua vida. Este teste, se realmente for contar para efetivá-lo, vai ser um autêntico “vai ou racha”. Se ele mostrar o talento que o fez ser considerado uma promessa para a F-1, pode conquistar a confiança necessária do time para substituir Kubica. Mas, se fracassar, pode também significar seu fim como piloto titular na categoria, pois poderia ficar “marcado” como alguém que não corresponde sob pressão. E o pior é que haverá muita pressão. Para Heidfeld tudo é lucro. A seu favor o alemão conta com a experiência, e com conhecimento para desenvolver um carro, algo que é a grande incógnita do brasileiro. Velocidade apenas não bastará, mas será importante. Mas, mais importante ainda será o “felling” com as reações do carro, sua capacidade de se passar aos engenheiros suas sensações, necessidades, encontrar respostas para perguntas que poderão surgir no teste. Velocidade Bruno tem, precisará mostrar o que sabe fazer nos boxes para ser considerado o eleito. Contra Heidfeld pesa o fato de não ter ido além do que já fez em sua longa carreira na categoria, e de ter sido batido por Kubica. Mas também não foi por muito, tendo muitas vezes andado não apenas no nível do polonês, como até à sua frente.
Mais do que tudo, neste momento o sobrinho de Ayrton precisará se manter de cabeça fria, e extremamente focado no que será exigido dele neste fim de semana. Se não for o eleito do time, que pelo menos mostre que pode ser uma alternativa séria a ser considerada em oportunidade futura. E que o time saiba apostar com ousadia no brasileiro, se ele for o escolhido. É preciso ser ousado para surpreender e ser bem-sucedido na F-1. A Renault tem os requisitos para tanto. Basta usá-los. Sem Kubica, eu diria que o time não tem mais muito a perder...Quanto a Bruno, que aproveite a oportunidade...pode não aparecer outra...
O automobilismo nacional está de luto. Morreu nesta semana, aos 74 anos, Luiz Pereira Bueno, o “Peroba”, um dos pioneiros do automobilismo nacional, que estreou ao lado de Bird Clemente nas Mil Milhas Brasileiras em 1958, e fez sucesso nas provas de endurance nos anos 1960. Ainda naquela década, correu na F-Ford inglesa, no time de Stirling Moss, onde foi vice-campeão da temporada, mesmo tendo perdido inúmeras corridas, buscando patrocínio. Em 1971, iniciou sua participação na equipe Hollywood, que foi uma das mais marcantes da história do automobilismo nacional. Disputou a etapa extracampeonato que marcou a estréia da F-1 no Brasil, em 1972, e correu também na estréia oficial do GP do Brasil no certame mundial, em 1973, onde abandonou com problemas mecânicos. Em 1984, despediu-se das corridas, tendo disputado sua última corrida nos Mil Quilômetros de Brasília, onde terminou em 8° lugar. Desde o início dos anos 1990, morava em Atibaia, onde faleceu esta semana. Bueno lutava contra um câncer desde o ano passado, e infelizmente, acabou vencido pela doença. Descanse em paz, Peroba, que teve o privilégio de viver uma era de automobilismo nacional que não se vê mais nos dias de hoje...
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