Acabou o marasmo. Depois de dois meses sem atividades aparentes, eis que a F-1 começa enfim a se mexer fora de suas fábricas, e as escuderias preparam-se para a pré-temporada 2011, que começa semana que vem, no circuito Ricardo Tormo, em Valência, onde teremos a primeira sessão coletiva de testes visando o campeonato de 2011. É hora de conferirmos, entre outras coisas, os novos carros das equipes para este ano, algo que sempre é esperado com grande ansiedade e expectativa, tanto por fãs, pilotos, e jornalistas.
A Ferrari sai na frente na apresentação dos modelos 2011. Hoje, em Maranello, na Itália, estará sendo apresentado o F150, carro com que a escuderia disputará o campeonato. O nome, aliás, é uma homenagem da escuderia aos 150 anos da unificação da península itálica, que até a segunda metade do século XIX, estava fragmentada em diversas regiões autônomas. Um belo gesto por parte da Ferrari à Itália. Creio que nada mais justo em troca da devoção que os italianos tem à escuderia, onde é praticamente considerada uma “instituição” nacional, tamanho o fervor dos tiffosi pelos carros criados por Enzo Ferrari há mais de 60 anos. Aliás, em se tratando de nomes, pode-se dizer que o time rosso nunca teve uma padronização dos nomes de seus modelos, por onde temos visto, em vários anos, diversas denominações para seus monopostos na categoria máxima do automobilismo.
Na semana que vem, especialmente em Valência, várias das outras escuderias apresentarão oficialmente seus carros. Na segunda feira, quando todos os times já estarão presentes no circuito espanhol, embora os testes só comecem de fato no dia 1° de fevereiro, terça-feira, estão programadas as apresentações oficiais dos novos carros das escuderias Sauber, Lotus e Renault. No dia seguinte, Williams, Red Bull, Toro Rosso e Mercedes lançarão seus novos carros. Um pouco mais à frente, no dia 4 de fevereiro, será a vez da McLaren, no dia 7 a Marussia Virgin mostrará seu carro novo, enquanto a Force Índia programou o lançamento de seu novo carro para o dia 10. A rigor mesmo, apenas a Hispania não irá apresentar um novo carro, prometendo fazê-lo provavelmente no fim de semana do primeiro GP, já no Bahrein, o que não é nenhuma surpresa, dada a forma débil do time espanhol, o qual muita gente já considera muita coisa ainda existir.
Antigamente, os carros eram lançados com verdadeiros shows pelos times. Em nome da contenção de gastos, isso felizmente acabou, pois cada vez mais estava se desviando o foco da competição para o show em si da apresentação, que muitas vezes chegava a ser faraônico demais, e isso não garantia resultados na pista. Em Valência, os carros de diversos times serão apresentados aos jornalistas quase que em grupo. Seria muito bom se todos os times se juntassem e promovessem uma apresentação conjunta dos novos monopostos, mas a guerra de egos entre as escuderias não permite que isso aconteça, como se vê no caso da apresentação da Ferrari, que sempre se acha dos demais times devido à sua história na categoria. Nada comparado às edições do Spring Training que a antiga F-Indy promovia nos Estados Unidos, onde numa sessão de treinos coletivos de pré-temporada, todas as escuderias e pilotos eram apresentados. Mas, americanos e europeus nunca falaram a mesma língua, e podem falar muita coisa de ruim dos americanos, mas quando se trata de marketing e contato com os fãs das suas categorias, eles dão um verdadeiro banho na F-1, que anda cada vez mais com sua postura de “não-me-toques” e “politicamente correto”...
Outra coisa meio chata atualmente é que os carros costumam ser todos parecidos, enquanto antigamente, cada time tentava ser mais original do que os outros, na busca por mais performance. Se isso produzia mais performance, era duvidoso, mas as formas diferenciadas de cada carro permitia ao público conhecer de cara qual carro era de cada equipe, mesmo que ele não tivesse pintura nem patrocinadores, algo que hoje em dia é quase impossível para a maior parte dos modelos que são lançados. Mas sempre fica a expectativa de que os designs sejam diferenciados, para ajudar a combater o clima de “padronização” que vem virando praga na categoria nos últimos tempos, em nome da “contenção de gastos” pretendida pelos times, que sempre soa meio artificial e duvidosa, pois os custos continuam nas alturas para se competir adequadamente na F-1, haja visto o aumento do número de pilotos “pagantes”, que só estão lá porque chegaram com polpudos patrocínios os quais os times andam precisando muito. Se a esse dinheiro eles mostrarem que, além de tudo, ainda tem talento para a competição, excelente. Mas infelizmente, não é regra geral.
A principal novidade no visual dos carros este ano deve vir da Renault, que oficialmente agora só possui o motor da fábrica francesa, sendo o time de propriedade integral do grupo financeiro Geni, que já tinha assumido porção majoritária em 2010, e agora assumiu o controle total. O carro deverá exibir um visual preto e dourado, baseado na lendária Lótus com o patrocínio da John Player Special, que foi pilotada por nomes como Émerson Fittipaldi, Ronnie Petterson, Mario Andretti, e Ayrton Senna. Ainda chamo o time de Renault porque, dado o rolo oportunista da Lótus Cars, que se tornou patrocinadora do time, e resolveu chamá-lo de “Lótus”, quando já temos uma outra “Lótus” no grid, fico com estes últimos, por terem tido o desafio, no ano passado, de trazerem novamente para a categoria o nome que foi para os ingleses o que a Ferrari é para os italianos na F-1. E Tony Fernandes, dono desta nova “Lótus”, está merecendo mais o nome do que a Lótus Cars, que só resolveu entrar na empreitada porque viu que poderia lucrar com ela, oportunidade que havia sido oferecida por Fernandes meses atrás, e que recebeu uma negativa por parte da Próton, que detém o controle da Lótus Cars. Aliás, a justiça inglesa adiou a decisão sobre quem tem direito ao nome “Lótus” para março, em data que teremos, até então, já 2 provas realizadas, onde muito provavelmente veremos 4 carros “Lótus” no grid...durma-se com um barulho desses...
Os novos carros também serão cruciais para se avaliar o desempenho dos pneus da Pirelli, que está retornando à categoria depois de 20 anos de ausência praticamente. Por solicitação da FIA e da FOM, a marca italiana preparou seus compostos com resistências bem mais acentuadas do que as exibidas pelos compostos da Bridgestone, de modo a forçar mais trocas de pneus, e com isso ajudar as corridas a terem mais emoções, algo que faltou em diversos GPs no ano passado devido às estratégias de corrida terem sido bem menos diferenciadas entre os times, o que gerou alguns protestos por parte dos torcedores. As informações dos novos compostos foram repassados aos times, e com os dados colhidos nos dois dias de testes em Yas Marina, em novembro, foi escolhida a base de projeto dos monopostos. Resta saber se todos os carros apresentarão as reações esperadas aos novos pneus, e se não haverão surpresas inesperadas com os compostos.
Para os torcedores brasileiros, a expectativa é do que nossos pilotos serão capazes de fazer com os novos carros. Felipe Massa aparentemente se deu bem com os novos pneus da Pirelli. Resta saber se o novo carro estará com um estilo de pilotagem bem a seu gosto, e não desenvolvido apenas para o estilo de pilotagem de Fernando Alonso. Em todo caso, é quase certo de que a Ferrari deverá ter um carro competitivo e vencedor, que dará a Felipe boas condições de brilhar no campeonato de 2011. Para Rubens Barrichello, a Williams precisará mostrar que soube assimilar seus conhecimentos para desenvolver o carro em 2010, e promover a continuação desta evolução no novo modelo 2011. Fica a dúvida se a Cosworth não se tornará o ponto fraco do carro, uma vez que seu motor, apesar da durabilidade demonstrada, mostrou não ter potência para rivalizar com os propulsores da Mercedes e da Ferrari.
É hora de conferir os novos carros e o que eles poderão ser capazes de fazer. E estamos apenas iniciando a pré-temporada...
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